PERSPECTIVISMO E METAMORFOSE: UM ESTUDO DA POÉTICA INDÍGENA DO CIRCUM-RORAIMA
Metamorfose. Perspectivismo. A história do Timbó. A história de Makunaima.
Defendido por muitos como um espaço geográfico e político, o circum-Roraima é um território transnacional ao redor do Monte Roraima, onde habitam os povos Macuxi, Wapichana, Taurepang, Ye’kuana, Wai-wai, Ingarikó, entre outros; está situado na fronteira entre Brasil, República Cooperativa da Guiana e República Bolivariana da Venezuela. Conhecido por abrigar uma imensidão de narrativas que apresentam metamorfoses, dentre as quais estão Panton Pia’ a História do Timbó e Panton Pia’ a História de Makunaima, o circum-Roraima sempre foi estimado por diversos pesquisadores empenhados em coletar as narrativas orais que fazem parte desse espaço. No Brasil, a mais nova coletânea de narrativas indígenas do circum-Roraima foi organizada pelo projeto “Panton Pia’: Narrativa oral indígena, registro e análise”. Diante disso, tomando como base o conceito de metamorfose defendido por Emanuelle Coccia (2020) e do perspectivismo ameríndio debatido por Eduardo Viveiros de Castro, pretende-se, nesta tese, como objetivo geral discutir, a partir do perspectivismo ameríndio, as transformações metamórficas ocorridas nas narrativas Panton Pia’ a história do Timbó e Panton Pia’ a história de Makunaima, coletadas e publicadas pelo projeto “Panton Pia’”. Além deste, temos como objetivos específicos fazer um panorama sobre a origem da literatura indígena brasileira; refletir sobre as metamorfoses que acontecem na história do Timbó trazendo tanto a perspectiva da anta quanto a perspectiva do homem; e mostrar a importância das metamorfoses presentas na narrativa A história de Makunaima para a construção das paisagens que compõe o circum-Roraima. Nesta pesquisa, lançamos a hipótese de que nas narrativas em questão possam existir, pelo menos, dois tipos de metamorfoses, a saber: as reversíveis e as irreversíveis, as quais podem estar ligadas a determinados pontos de vista para que aconteçam. A pesquisa será de cunho investigativo bibliográfico e interpretativo no âmbito interdisciplinar, envolvendo estudos da literatura, teoria literária indígena, filosofia, antropologia e biologia, e será baseada nos estudos de Viveiros de Castro (1996-2008-2011), Paul Zumthor (1993-1997), Maria Inês de Almeida e Sônia Queiroz (2004), Michel Collot (2012), Lúcia Sá (2012-2017), Graça Graúna (2013), Fábio Carvalho (2017), Devair Fiorotti e Clemente Flores (2019), Emanuele Coccia (2020), entre outros.