A POLÊMICA DA LEITURA DE ROMANCES: PRESCRIÇÕS E PRECEITOS RELIGIOSOS NA BELÉM DO SÉCULO XIX
Romance; Século XIX; Periódicos religiosos; Igreja católica; Maçonaria.
As transformações sociais, culturais e políticas ocorridas no século XIX ocasionaram diferentes
manifestações na imprensa brasileira, mais especificamente, as ordens religiosas-doutrinárias
conduziram um embate fervoroso em que disputas ideológicas concorreram para firmarem-se,
uma ou outra, na sociedade por meio de ações que iriam além do âmbito religioso. Nesse
contexto, o gênero romance popularizou-se, também no meio jornalístico, e sua prática de
leitura foi alvo de posicionamentos divergentes entre as figuras letradas atuantes na imprensa.
Dessa forma, este estudo objetiva analisar, comparativamente, a presença da crítica ao romance
nos jornais paraenses A Boa Nova (1871 – 1883), de ordem católica, e O Pelicano (1872 –
1874), porta-voz da Maçonaria em Belém do Pará, a fim de confirmar a atenção significativa
às práticas de leitura, à época, por parte de instituições dogmáticas, as quais também se inserem
nos estudos sobre circulação e divulgação do romance no Oitocentos brasileiro. Para
alcançarmos o objetivo proposto, foi realizada a leitura dos periódicos, catalogação e
compilação dos dados referentes à análise principal, além da inserção de leituras bibliográficas
pertinentes ao período histórico e à doutrina de cada jornal. Assim, o trabalho divide-se em três
principais seções, em que na primeira trataremos sobre os jornais de caráter religioso-
doutrinário em outras províncias do país, integrando-os a um movimento nacional de
periodismo doutrinário, em que a prosa ficcional foi um dos assuntos relevantes publicados
nestes impressos. Em seguida, explicitaremos a respeito dos jornais paraenses, no que tange
suas especificidades materiais, quem foram seus dirigentes e o que fora impresso nas edições,
incorporando tais tópicos ao contexto histórico em que ambas as folhas se inseriram. Por fim,
serão analisados os escritos referentes às prescrições ao romance propalados nestes jornais, no
qual artigos, notas e anúncios serão explicitados à luz dos respectivos projetos editoriais de cada
impresso, assim como contextualizados de acordo com os aspectos históricos e literários do
período. De um lado, o romance, e consequentemente sua leitura, é eleito como instrumento
perigoso aos fiéis católicos, por outro, é valorizado e recomendado como leitura instrutiva e
moralizante e, de acordo com as intenções de cada jornal, a presença de crítica e da divulgação
de romances nestes jornais comprova a preocupação dos dirigentes religiosos sobre as práticas
de leitura da época e os efeitos causados nos leitores, os quais poderiam contribuir ou afastar o
público dos preceitos de cada instituição. Desse modo, a pesquisa insere nos estudos literários
a investigação em fontes primárias de cunho religioso-doutrinário, visto que foram meios de
veiculação da prosa ficcional oitocentista e integraram-se a um conjunto de escritos prescritivos
e críticos a respeito do romance, tratando-se de significativos objetos de estudo para a
composição da História Literária nacional.