PARKATÊJÊ LÍNGUA DE HERANÇA: ‘MINHA LÍNGUA ENSINADA DO JEITO QUE EU QUERO’
Índios Parkatêjê; Língua de herança; Material pedagógico; Abordagem Comunicativa Intercultural.
A morte de uma língua, indígena ou não indígena, representa danos para a humanidade como
um todo, pois significa a perda do legado histórico de uma nação, da identidade do povo que
um dia a falou e de determinada concepção de mundo. Em razão da atual situação de ameaça
à existência de línguas/culturas indígenas localizadas em solo brasileiro, a busca por
princípios e métodos para revitalizá-las ou para preservá-las tem sido crescente nas últimas
décadas, no País. A fim de evitar a extinção final, comunidades indígenas, com a ajuda de
linguistas e de estudiosos de outras áreas do conhecimento, têm optado por investir, em geral,
no ensino/aprendizagem desse patrimônio imaterial como primeira ou como segunda língua
na escola. Na presente pesquisa, sugere-se, todavia, que línguas indígenas devam ser
interpretadas como língua de herança em práticas pedagógicas, por pertencerem a grupos
sociais minoritários com as quais se identificam etnicamente, embora muitas vezes se
comuniquem tão somente por meio da língua portuguesa. Essa é a realidade dos Parkatêjê, um
povo Timbira falante de língua de mesma denominação localizado na Terra Indígena Mãe
Maria, em Bom Jesus do Tocantins, no Estado do Pará, ao qual a mencionada pesquisa se
direciona. No contexto Parkatêjê, apenas os anciãos possuem fluência na língua indígena e
não se observa mais transmissão intergeracional, porém seus integrantes ainda vivenciam as
suas singularidades culturais e, atualmente, decidiram investir em ações para (re)aprender a
língua tradicional de seu povo. Com o objetivo de contribuir com a revitalização da língua em
questão, elaborou-se um material pedagógico para ser utilizado como fonte no seu
ensino/aprendizagem, com base nos pressupostos da Abordagem Comunicativa Intercultural,
considerada nesta Tese de Doutorado como uma força potencial na construção e reconstrução
do conhecimento sob uma ótica crítica e reflexiva entre os sujeitos e mundos culturais plurais
envolvidos nesse processo. A produção do material apoiou-se em um trabalho baseado na
escuta e no diálogo, visto que foi pensada com e não para este povo indígena, conforme as
suas necessidades e objetivos. Assim, contou com a participação ativa de seus integrantes,
principalmente a dos anciãos, em todas as etapas envolvidas. Por meio do conteúdo e das
atividades propostas, pretende-se incentivar o desenvolvimento de experiências significativas,
dinâmicas e criativas na/com a língua/cultura indígena entre as diferentes culturas que estarão
em interação na Escola Indígena Parkatêjê. Contudo, a (re)aprendizagem desta língua
necessita também do envolvimento dos professores indígenas e não indígenas em formação
adequada, para saber como utilizar o material em suas aulas, e do comprometimento efetivo
dos Parkatêjê no sentido de encorajar o uso da língua indígena em situações comunicativas na
aldeia.