A História do Makunaima e a História do Timbó: um estudo das relações entre humanos e outros-que-humanos.
Metamorfose; Perspectivismo ameríndio; narrativas indígenas; Ouros-que-humanos.
É impossível negar que o pensamento ocidental, eurocêntrico, o dito civilizado, quase sempre predominou como o correto, o aceitável, na maioria das vezes sem abrir possiblidades para que outros saberes, como o dos indígenas, por exemplo, também pudessem ser levados em consideração, especialmente quando se trata da relação que estes mantêm com os seres da natureza em geral. Diante disso, esta pesquisa de doutoramento se desenvolve a partir da hipótese de que as narrativas Panton Pia’ a História do Timbó e Panton Pia’ a História do Makunaima ilustram bem a maneira como os povos indígenas se relacionam com os outros-que-humanos, como os animais e plantas, assim como com a natureza de modo geral, demonstrando que todos os seres que habitam o universo estão interligados a um único ser, a Mãe Terra. Nesse sentido, proporemos uma discussão acerca das epistemologias indígenas para entender como se dão as relações dos humanos com os outros-que-humanos nas narrativas Panton Pia’ a História do Timbó e Panton Pia’ a História do Makunaima. As duas narrativas que servirão como corpus para esta pesquisa foram coletadas pelo projeto “Panton Pia’: Narrativa oral indígena, registro e análise” no circum-Roraima, território transnacional ao redor do Monte Roraima, onde habitam os povos Macuxi, Wapichana, Taurepang, Ye’kuana, Wai-wai, Ingarikó, entre outros. Para tanto, temos como objetivos específicos falar sobre as narrativas indígenas; discutir as transformações metamórficas ocorridas nas narrativas Panton Pia’ a história do Timbó e Panton Pia’ a história do Makunaima que mostram as relações entre os humanos e outros-que-humanos; mostrar a importância das metamorfoses presentes na narrativa A história de Makunaima para a construção das paisagens que compõe o circum-Roraima; bem como ressaltar a importância dos elementos que constituem a paisagem do circum-Roriama como acionadores da memória do narrador indígena Clemente Flores. A pesquisa será de cunho investigativo bibliográfico e interpretativo no âmbito interdisciplinar, envolvendo estudos da literatura em geral e da literatura indígena, da filosofia, antropologia, biologia, entre outros, e será baseada nos estudos de Viveiros de Castro (1996-2008-2011), Paul Zumthor (1993-1997), Maria Inês de Almeida e Sônia Queiroz (2004), Michel Collot (2012), Lúcia Sá (2012-2017), Graça Graúna (2013), Fábio Carvalho (2017), Devair Fiorotti e Clemente Flores (2019), Emanuele Coccia (2020), entre outros.