TEMPO, MEMÓRIA E NARRADOR ONTOPOÉTICO EM CENAS DA VIDA DO AMAZONAS, DE INGLÊS DE SOUSA.
Tempo. Memória. Escuta. Romance. Inglês de Sousa.
Inglês de Sousa nasceu na cidade interiorana de Óbidos, localizada no estado do Pará, em 28 de dezembro de 1853, e faleceu no Rio de Janeiro, em 6 de setembro de 1918. O escritor passou a maior parte de sua vida fora da cidade natal, mas foi na região amazônica que se inspirou para compor as suas obras literárias: História de um Pescador (1876), O Cacaulista (1876), O Coronel Sangrado (1877), O Missionário (1891) e Contos Amazônicos (1893). É possível cogitar que a valorização, apenas, da textura documental sócio-político-histórica pela crítica foi responsável por instaurar o obscurecimento do lastro estético dos romances O Cacaulista e O Coronel Sangrado. No entanto, é justamente o lastro estético que os mantém vivos. Sendo assim, esta pesquisa objetiva estudar as questões do tempo e da memória postas em obra por esses romances. Diante disso, é necessário lançar-se no abismo do pensamento e realizar uma crítica literária enquanto escuta poética das questões. Para uma maior compreensão e aprofundamento, esta pesquisa limitou-se à reflexão do personagem protagonista Miguel Faria, que migra de um romance para o outro. Dessa forma, entende-se que esse personagem-questão vive uma experienciação com o tempo, que foge àquele cronometrado pelo relógio ou mesmo àquele pensado pela ciência, e no seu tempo experiencia o tempo humano e poético. Para realizar este intento, dialogou-se especialmente com Henri Bergson (1859-1941), Martin Heidegger (1889-1976), Benedito Nunes (1929-2011) e Manuel Antônio de Castro (1941-) para pensar a escuta poética das questões naqueles romances inglesianos.