ENTRE FLORES DESCERRADAS E GIRASSOL NUM TÚMULO: LEITURAS DO EROTISMO EM “DÃO-LALALÃO” E A HORA DA ESTRELA
Literatura brasileira; Personagem feminina; Erotismo; Corpo.
Com base nas narrativas “Dão-Lalalão (O devente)”, novela de Corpo de baile (1956), de João Guimarães Rosa, e A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector, propomos uma leitura que visa a compreender o erotismo partindo da hipótese de que este contribui para a potencialização da capacidade de resistência dos corpos femininos, que são aqui representativos de um excesso agônico em espaços ficcionais violentos e periféricos, nos quais buscam, conscientemente ou não, fendas para transgredir a normalização e a disciplina. Nesse sentido, aborda-se, primeiramente, a maneira como os corpos femininos das personagens Doralda e Macabéa são figurados nas narrativas enquanto sujeitos dotados de individualidade, como parâmetro para as discussões empreendidas acerca de como essa configuração repercute no lugar social ocupado por elas na sociedade patriarcal, com seus desejos, direitos e poder de voz nas narrativas. Na sequência, serão discutidas as relações de poder que ocorrem no contexto da modernidade e da modernização e como impactam no desenvolvimento das personagens por meio de seus deslocamentos no sentido centro-periferia e periferia-centro e da inserção no mundo do trabalho. Por fim, há a reflexão sobre as manifestações do erotismo nas narrativas como fator de oposição e resistência às formas de poder. Nesse sentido, em “Dão-Lalalão”, busca-se compreender como os entrelaçamentos entre memória, violência, interditos e transgressões atuam na construção de uma erotismo situado no limite entre submissão e subversão. Em A hora da estrela, por outro lado, experiência erótica e morte são lidas como o limite da possibilidade de resistência às opressões sobre o ser. Nesta pesquisa, de natureza eminentemente bibliográfica, aplicamos o método hipotético-dedutivo, na leitura das narrativas em questão com fundamentação em referencial teórico tanto da filosofia quanto da teoria literária, além de buscar apoio na recepção crítica, sobretudo naquelas que se ocupam das temáticas da tese. Com isso, são referências autores como Bataille (2016; 2020a; 2020b), Foucault (1998; 2009; 2013; 2014; 2018), Didi-Huberman (1999; 2011; 2015), Agamben (2007), Roncari (2017), Valente (2018), Helena (2006), Peixoto (2004).