INCÊNDIOS, DEGRADAÇÃO E RESTAURAÇÃO BIOCULTURAL DE FLORESTAS SOCIAIS NA RESERVA EXTRATIVISTA TAPAJÓS-ARAPIUNS, OESTE DO PARÁ
I
degradação florestal; fogo; restauração florestal; comunidades extrativistas
A Amazônia tem papel central na conservação da biodiversidade terrestre, na provisão de serviços ecossistêmicos de relevância global, como a regulação do clima e é o habitat de milhares de comunidades tradicionais e populações indígenas. Apesar da sua importancia socioambiental, as atividades humanas têm causado extensas transformações na floresta amazônica e uma das maiores preocupações atuais, além do desmatamento (corte raso da floresta) é a degradação florestal causada pelo fogo. Essa tese aborda o tema da degradação causada por incêndios em florestas sociais habitadas por comunidades indígenas da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns, na região de Santarém, oeste do Pará considerada uma das regiões mais vulneráveis ao fogo da região amazônica. A pesquisa examina o efeito de dois incêndios consecutivos (2015 e 2017) na estrutura, composição e diversidade de espécies de árvores e palmeiras da 0floresta, avalia a percepção das comunidades indígenas sobre a degradação e as mudanças nas condições da floresta social causadas pelo fogo e analisa a possíbilidade de construir estratégias para evitar a degradação futura e recuperar as florestas sociais pela abordagem biocultural que integra a pesquisa e o saber tradicional das comunidades indígenas. Os resultados mostraram que os incêndios florestais consecutivos reduzem a biomassa da vegetação e conduzem à homogeneização taxonômica da floresta. As comunidades indígenas percebem a vulnerabilidade do seu território à ocorrência dos incêndios florestais, particularmente em épocas de seca severa. Além disso, elas reconhecem perdas sociais, econômicas e ambientais e estão dispostas a atuar no controle do avanço da degradação e na recuperação da floresta social. Por fim, é proposta uma agenda de pesquisa e ação focada em causas, impactos, gestão e mitigação de incêndios em florestas sociais que inclui iniciativas piloto de restauração biocultural, produzidas de forma conjunta com as comunidades. Essas iniciativas devem conter metas, abordagens e tecnologias capazes de capacitar econômica, social e politicamente e integrar a ação das comunidades indígenas, organizações não governamentais, órgãos públicos, academia e agências de pesquisa e o poder público a fim de ampliar a abordagem da restauração biocultural relacionada aos incêndios florestais na Amazônia e produzir conhecimento e lições globalmente relevantes.