Um homem de “sciencias” no vale do Amazonas: etnografia no Rio Tapajós e busca por reconhecimento na obra do naturalista João Barbosa Rodrigues (1872-1909)
João Barbosa Rodrigues, Etnografia, Amazônia, indígenas, rio Tapajós.
A dissertação analisa aspectos da trajetória intelectual e profissional do naturalista brasileiro João Barbosa Rodrigues (1842-1909). Iniciada em 1872, o cientista foi comissionado pelo Governo Imperial para chefia da “Comissão de Exploração do vale do Amazonas” a fim de proceder estudos a respeito da flora e da população indígena da região. Como resultado, produziu vasta documentação botânica iconográfica, recolheu inúmeros artefatos arqueológicos, registrou o contato com diversos povos indígenas e publicou inúmeros trabalhos, entre estes, 5 relatórios relativos aos rios que visitou entre 1872 e 1875, o Tapajós, o Urubú e Jatapú, o Trombetas, o Yamundá e o Capim. Nesta dissertação iremos analisar a sua primeira viagem de exploração, realizada no Baixo e Alto Tapajós, no Baixo-Amazonas. Nesse rio, o cientista realizou extensas investigações etnográficas, discorreu sobre diversos assuntos como a origem dos “antigos Tapajós” e registrou características particulares dos sobreviventes do processo de colonização, entre eles os “Appiacás”, os “Parintintins”, os “Mauhés” e os “Mundurucús”. A partir de seus relatórios, assim como inúmeras outras publicações e fontes impressas, como jornais, revistas científicas, documentos governamentais, entre outros, tentamos reconstruir suas primeiras incursões no meio científico da época, sua aproximação com personalidades que o apoiariam em suas empreitadas – caso de Guilherme Schüch de Capanema, barão de Capanema (1824-1908) e da própria Princesa Isabel (1846-1921) –, seu esforço para ser reconhecido como homem de “sciencias” tanto no Brasil como no exterior, além de sua associação, em 1876, ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). O discurso “civilizatório” desta instituição moldou suas reflexões, levando-o a pintar (literalmente) o indígena brasileiro como um ser primitivo, mas inventivo, afetuoso, habilidoso, aberto ao progresso, enfim. À documentação primária, somou-se a este texto um aporte teórico a partir da análise do discurso de Mikhail Bakhtin, entre outros autores que se debruçaram na narrativa sobre o “outro”, possibilitando um olhar mais acurado da escrita de Barbosa Rodrigues.