Iracema – uma Transa Amazônica. Entre a censura e a aclamação. Experiências e representações sobre a
Amazônia (1974-1981)
Amazônia; Cinema; Regime militar; Representação; Experiências;
Identidade
Em 1968, um jovem fotógrafo chamado Jorge Bodanzky se deparou com casos constantes de
exploração sexual de meninas entre doze e quinze anos, que se prostituíam nas proximidades
da rodovia Belém-Brasília. Nesse contexto de desigualdades sociais existentes na Amazônia,
que, na percepção de Bodanzky, representavam contradições ao dito “progresso” que os
militares prometeram entregar para região através do PIN (Plano de Integração Nacional), que
o jovem fotógrafo, que havia estudado cinema em uma Universidade na Alemanha Ocidental,
partiu para construir o projeto cinematográfico de Iracema – Uma Transa Amazônica. Um
resultado criativo, não apenas de Bodanzky, mas também da direção de Orlando Senna e da
produção de Wolf Gauer. Inspirado na etnoficção dos documentários de Jean Rouch e na
verossimilhança do Neorrealismo Italiano, a obra apresenta um discurso sobre a Amazônia
pautada nas desigualdades socioambientais causados pelo desmatamento desenfreado devido
à liberdade de exploração concedida, principalmente, às agroindústrias pelo governo militar.
Devido sua temática controversa, o filme foi censurado no Brasil em 1975. Durante seis anos,
foi aclamado por críticos e festivais na Europa, enquanto no Brasil circulava de forma
semiclandestina em cineclubes e era visibilizado nas manchetes da imprensa brasileira entre
notícias sobre o seu sucesso no exterior e narrativas sensacionalistas que, de certa forma,
buscavam desqualificar os realizadores do filme. Este trabalho busca compreender como
Iracema – Uma Transa Amazônica estava inserido em conjunturas de transformações
sociopolíticas na Europa, e como sua censura no Brasil representava uma reação às ideias
emergentes que contradiziam as concepções conservadoras e nacionais-desenvolvimentistas
do regime militar.