“Minha divina Santa Bárbara, mãe, venha ver seu mundo”: As festas de Santa Bárbara nos terreiros da
Pedreira em Belém do Pará (1960-1990)
Festa. Memória. Santa Bárbara. Afrorreligiosidade. Pedreira.
Os tambores de Santa Bárbara compõem o calendário afrorreligioso dos terreiros, marcando na folhinha ritualística o dia 04 de dezembro. Nesta data celebra-se, por meio do canto e da dança, a mártir católica da Nicomédia Santa Bárbara; a Orixá Iorubana Iansã / Oyá e a encantada da família dos Nobres Gentis Nagô Maria Bárbara Soeira ou Barbassuera. Do processo sincrético e também diaspórico de culturas, tradições e saberes da oralidade, têm-se as festas: os tambores de Bárbara e os Babassuês, reverberando sonoridades pela cidade de Belém e na Pedreira, bairro periférico localizado na capital paraense. Nesse sentido, apresento como proposta de pesquisa o estudo sobre as produções de memórias das festas de Santa Bárbara, ocorridas nos terreiros afrorreligiosos localizados na Pedreira, num recorte de 1960 até 1990, registradas a partir das falas dos filhos, pais e mães de santo, a partir de suas memórias, experiências, sentidos e significados atribuídos.
O ritual festivo pode ser considerado como evento que privilegia o fazer e o agir, reforça o contexto, admite o imponderável e a mudança. Portanto, é linguagem em ação, possibilitando refletir sobre os fenômenos sociais e os sujeitos participantes em sua multiplicidade e complexidade. Dentro desta abordagem, torna-se possível visualizar os símbolos em movimento, as mudanças, as permanências, e as produções de memórias individuais e coletivas com seus sentidos envoltos nas manifestações festivas religiosas. Isto posto, lanço como problemática basilar a de refletir acerca da importância que esta festa possui dentro do calendário afrorreligiosos. Bem como, compreender quais mudanças e permanências podem ser visualizadas no decorrer desse evento religioso ao longo das gerações. Nesse sentido, tem-se em vista que cada casa de culto produz relatos próprios, pautados em suas experiências com o sagrado, e formas próprias de conduzir o ritual. O ponto chave é registrar essas heranças memorialísticas e a criação de outras novas na continuidade das festas de Santa Bárbara e que marcam o bairro da Pedreira, conhecido como o reduto dos antigos batuques na cidade.