PERIFERIA E NEGRITUDE: RITMO E POESIA (RAP) COMO PRODUÇÃO ESTRATÉGICA DO MUNDO PERIFÉRICO EM BELÉM-PA (1996-2023)
Rap; Belém do Pará; Negritude; Periferia; Decolonialidade.
Em 1994, tem-se a primeira aparição de um grupo de rap na cidade de Belém do Pará.
Surgido do bairro da Terra Firme, periferia de Belém, o grupo MBGC – Manos da Baixada do
Grosso Calibre – revolucionou com um novo estilo musical para a retratar a realidade da
periferia belenense. Desde a década de 80, momento de grande mudança de representação
cultural, incluindo o âmbito historiográfico, o rap divulgou-se mundialmente como forma de
espelhar a cultura popular e as insatisfações sofridas nos bairros afastados do centro. Surgido
na década de 1970, nos Estados Unidos, após um panorama de grande crise, veio como forma
inovadora para denunciar os problemas sociais vivenciados pelos jovens dos bairros
marginalizados. Já no cenário brasileiro, o rap se inicia como forma de divertimento e
posteriormente, revela-se politizado. Thaide e DJ Hum dão início ao rap nacional e logo
outros nomes surgem, ganhando destaque, como Racionais Mc’s, que deram ao rap uma
forma engajada. A partir desses eventos e da visibilidade nos jornais em Belém que
retratavam o “rapping” e a cultura Hip Hop, o estilo musical ganhou força e influenciou
novos sujeitos na região, atentando-se ao cenário amazônico e as dificuldades sofridas nos
bairros da cidade, incluindo os artistas paraenses como Pelé do Manifesto e o Th091, com
grande visibilidade em “poemas abolicionistas”. Desse modo, o objetivo geral desse trabalho
é perceber as possibilidades do estilo musical rap como suscetível para análises e
compreensão histórica, no que alberga os sujeitos da periferia – Pelé do Manifesto, Th091 e
outros que deram início ao movimento como Mc Negro Edi, Bruno BO, Marcelo Muslim, Dj
Morcegão – com suas rimas carregadas de aspectos da cultura diaspórica. O rap é um estilo
caracterizado como “canto falado”, que busca contrapor as injustiças sociais, econômicas,
culturais e históricas, e assume o papel de retratar realidades enfrentadas, estritamente, do
povo preto, portanto, pode ser caracterizado como um efeito da colonização. Diante disso, é
perceptível o estímulo aos pensamentos contrários a uma hegemonia formada, para confrontar
as tensões culturais e o racismo.