ENTRE A NAÇÃO E A REGIÃO: OS INSTITUTOS HISTÓRICOS E GEOGRÁFICOS DO PARÁ E DO AMAZONAS NA ESCRITA DA HISTÓRIA DO BRASIL A PARTIR DA AMAZÔNIA (1917-1953)
Institutos Históricos e Geográficos; Região; Nação; Campo Historiográfico Regional; Amazônia.
Esta tese de doutorado busca analisar a atuação dos Institutos Históricos e Geográficos do Pará e Amazonas e de seus membros na construção do campo historiográfico da Amazônia e sua integração à História do Brasil no contexto de 1917 a 1953, com vistas a compreender as intenções, estratégias e o contexto histórico em que esse campo funcionou, sobretudo na relação região e nação. Investigamos, a partir das revistas dos Institutos Históricos, estatutos, atas, cartas, correspondências, artigos de jornais, relatórios e os anais dos Congressos de História Nacional realizados pelo IHGB, obras, capítulos e artigos, a atuação dos institutos históricos e seus historiadores na construção do campo historiográfico regional. Teórico-metodologicamente, esta tese se baseia na teoria dos campos de Pierre Bourdieu, especialmente o conceito de Campo Intelectual e sua articulação com o Campo do Poder. A concepção de campo historiográfico aqui utilizada serve para designar um espaço relativamente autônomo, um microcosmo dotado de suas próprias leis, formado por sujeitos e instituições envolvidos em uma zona de forças e lutas, cujas disputas por lugares e saberes ocorrem nessa zona. Assim, duas questões se sobressaem: qual o papel dos institutos históricos e geográficos da Amazônia e de seus historiadores na elaboração de uma história regional? E mais, qual a relação entre a região (amazônica) e a nação (brasileira) a partir da historiografia produzida angularmente a partir da Amazônia? A leitura inicial dos documentos e o aparato teórico e metodológico nos possibilitaram compreender a construção de um regionalismo histórico, disseminado por meio das publicações, do envio e recebimento de correspondências, participações em eventos, entre outros mecanismos, que privilegiavam acontecimentos, personagens e narrativas da história da Amazônia, especialmente as origens da região, as efemérides locais, regionais e nacionais, a biografia de nomes considerados exemplares, a economia amazônica, a história das cidades e dos estados, a cultura e a terra da Amazônia, dentre outros. A argumentação principal desta tese volta-se para demonstrar que a partir da formação de um campo historiográfico regional não ocorreu um processo de fechamento desse campo em torno da história da Amazônia, mas sim um processo de escrita da História do Brasil a partir da Amazônia. Assim, esta tese busca demonstrar que a História do Brasil não foi escrita unicamente sobre os desígnios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), mas foi também escrita a partir dos espaços regionais a partir da zona de contato entre a instituição matriz e suas congêneres, sobretudo em função das lutas de representações e negociações da intricada relação entre região e nação, vista a partir da historiografia.