NECROPOLÍTICA E EXTERMÍNIO: as vozes dos familiares enlutados da grande chacina do bairro Guamá, Belém, Amazônia, Brasil.
Processo de Violência. Chacina do Guamá. Criminalização. Estigmatização
Introdução: O artigo trata do processo de violência vivenciado pelos familiares enlutados da grande chacina do Guamá, Belém do Pará, no ano de 2019. Base fundamental: O texto parte da compreensão de que os crimes de chacina são parte de um projeto necropolítico e deixam inúmeras vítimas além daqueles visceralmente ceifados. Objetivos: Sob a luz da necropolítica e unindo pontos com a criminologia crítica, o estudo objetivou trazer à tona a complexidade da experiência vivida decorrente do extermínio de seres humanos. Método: Processos de criminalização, estigmatização e necropolítica foram as matrizes de análise sob as quais se interpretaram e se inferiram o conteúdo das reportagens analisadas e o repertório verbal dos entrevistados. A metodologia empregada abarcou análise documental, reportagens da mídia de massa e dos processos judiciais criminais, além do emprego de técnicas qualitativas, em entrevistas em profundidade. Resultados: Os achados indicam a estigmatização das vítimas é um processo justificador e legitimador das mortes; que cinco dos sete entrevistados já sofreram algum tipo de violência; seis se consideram igualmente vítimas da chacina; pessoas do sexo feminino são mais suscetíveis em manifestar-se sobre o episódio e familiares das vítimas femininas são mais invisibilizados e silenciados a contar a história das mulheres mortas. Da análise das informações emergiram cinco conjunto temáticos frequentes e pertinentes: justiça, violência, impunidade, família e vítimas; além de três apenas pertinentes: racismo, chacina e trabalho, sugerindo que o luto persiste com a luta pela reparação e que o não acolhimento estatal das famílias reforça a estigmatização e a violência.