Cruzada moral nos Rios do Arquipélago de Marajó: das denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes em balsas aos dispositivos de justificação de mulheres ribeirinhas
Ribeirinhos. Prostituição. Ideologia da decadência. Antropologia da moral.
A tese, intitulada “Cruzada moral nos rios do arquipélago de Marajó: das denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes em balsas aos dispositivos de justificação de mulheres ribeirinhas”, objetivou analisar as construções morais de mulheres ribeirinhas acerca da prostituição de crianças, adolescentes e mulheres nos rios do Arquipélago de Marajó. Assim, o objeto de pesquisa gira em torno da análise das construções morais de mulheres ribeirinhas acerca da prostituição de crianças e adolescentes nos rios do Arquipélago de Marajó. Portanto, questionamos a ideia única e simples de prostituição veiculada na mídia (telejornais, jornais e revistas) e sua relação mecânica com a pobreza, uma vez que os modos de vida ribeirinhos nos dias de hoje vão além do mero discurso sobre decadência, prevalecendo os trânsitos incessantes de navios, balsas, pessoas diversas, objetos e necessidades de consumo, ideias, símbolos e afetos. Os procedimentos teórico-metodológicos desta pesquisa ancoram-se na análise situacional como método e no instrumental da história oral como técnica de obtenção e tratamento de dados. Essa escolha metodológica justifica-se na medida em que foi o método e a técnica que mais se ajustaram ao problema de pesquisa e à especificidade da coleta de dados no campo. No tocante ao método de investigação, foi necessário discorrer sobre algumas questões éticas relacionadas à escrita da tese e à preocupação com as implicações da pesquisa para as famílias participantes. Para fundamentar as discussões iniciais desta pesquisa, utilizamos as seguintes categorias: antropologia da moral (Werneck, Cardoso de Oliveira 2014), mídia, ideologia e cruzada moral (Andrade 2001), decadência (Almeida 2004; 2008a; 2008b; 2008c), comunidades tradicionais (Diegues 2000; Fraxe 2007; O’Dwyer s/d; Marin 2010; Marinho 2009). Os resultados parciais da pesquisa evidenciam que os namoros e mesmo o estabelecimento de uma relação análoga ao casamento (os balseiros atuariam como os provedores para sua mulher e crianças ribeirinhas), e mesmo a venda de produtos nas balsas ou sua troca por óleo diesel, seria uma justificativa das mulheres ribeirinhas face aos ataques dos denunciadores. Com efeito, esse expediente evidenciaria o poder de agência das ribeirinhas em face dos ataques ideológicos frequentes dos meios de comunicação de massa e mesmo da constante repressão policial nos rios e na atuação do Estado face ao cenário ideológico criado de ocorrência de crimes.