O POVO DO FUNDO: cosmologias em construção e territorialidades no Baixo Amazonas
Territorialidade, cosmologia, identidade étnica, mundo do encante
Esse é um trabalho de pesquisa etnográfica desenvolvido na região do Baixo Tapajós e Amazonas entre agentes sociais de diferentes identidades étnicas (indígenas, quilombolas) e os autoatribuídos pajés, curadores, benzedores, sacacas e puxadores. A pesquisa objetiva apreender como a cosmologia está imbricada no território, para tal questão foi necessário acessar diferentes localidades, narrativas do modo de viver dos povos e comunidades tradicionais com os quais trabalhei. No percurso do trabalho foi possível observar como a prática de cura, fundamentada, às vezes, na viagem ao fundo do rio realizadas por aqueles dotados do dom, os sacacas. As viagens aparecem como transmissão de conhecimento e o domínio que exercem sobre o território (O’Dwyer, 2019), ultrapassando os limites de fronteiras das comunidades. Nas narrativas o fundo do rio ou o encante, emergem os encantados: animais (boto, sereia, sapo, cobragrande), bichos, mestres, os quais são assinalados numa relação cotidiana com os agentes sociais. O que me faz questionar: o que estes agentes sociais ao ressaltar a importância dos lugares, o encante, morada dos encantados, trazem como contribuição para compreensão da relação identidade, território e cosmologia, diante do contexto de conflitos entre madeireiros, sojicultores e o avanço de projetos de infraestruturas (portos, estradas, etc.), os quais têm devastada em larga escala sobre as florestas nativas, assoreamento dos rios e envenenando solo? Como organizar a reprodução social e a manutenção do modo de vida destes povos e comunidades tradicionais? Como se dará a busca pelo conhecimento no fundo dos rios, tendo em vista o crescente destes avanços? Neste sentido, a interpretação dos dados coligidos em trabalho de campo me leva a seguinte tese: é possível pensar o território sem cosmologia? Na pesquisa de campo realizei entrevistas, conversas informais, assistir documentários e em meio a pandemia da Covid 19 passei a conversar por meio da rede social WhatsApp. Neste sentido, as narrativas dos agentes sociais, revelam que a cosmologia está diretamente associada à identidade étnica e à luta pela permanência nos territórios.