Elas vestem azul marinho: uma etnografia das relações de poder e gênero que envolvem as torcedoras do Clube do Remo
Futebol; Torcida; Gênero; Feminismos, Etnografia.
Neste trabalho proponho etnografar as socialidades das torcedoras do Setor Feminino da torcida Barra Brava do Clube do Remo, de Belém do Pará - objetivando verificar de que maneira gênero e o futebol se entrelaçam, historicamente, formando um complexo a partir do qual as relações de poder se assentam, direcionando emoções e sensibilidades quotidianamente. Acredito que a análise dos processos socioculturais intersubjetivos sejam fundamentais para compreender como se configuram as relações de vigilância, controle e regulação entre as torcedoras no que tange a produção de discursos sobre a fidelidade clubística utilizados como dispositivos de poder para classificar as torcedoras. A arbitrariedade e inadequação dessas classificações são baseadas em uma hierarquização a qual divide as remistas entre mais ou menos torcedoras ou, ainda, “remistas de verdade” e “mulheres que entendem de futebol” à medida que concordem com tais regulações. A tentativa de controlar e vigiar o desejo das torcedoras, em vários episódios, punindo quem discorda da regulação do grupo interno possibilitou pensar esse sistema arbitrário de classificações. Para fazê-lo, utilizo uma perspectiva teórica que discute futebol, gênero e marcadores sociais objetivando questionar desde o determinismo biológico sobre nascer mulher, bem como, a generificação enquanto categoria analítica, além de etnografar intersubjetividades, afetividades e relações de poder enquanto prática social do que é ser mulher-torcedora.