No tempo das pedras moles – arqueologia e simetria na floresta
Arqueologia indígena - modos de conhecer - diálogos interculturais
Nos primeiros contatos que eu tive com os Wajãpi, um povo tupi que vive na região entre os rios Jari e Oiapoque (Amapá e Guiana Francesa), durante oficinas de formação de pesquisadores indígenas, eu percebi que na Terra Indígena Wajãpi – como em outras áreas do Amapá e da Amazônia em geral – havia muitos sítios arqueológicos. Mas eu também percebi que além dos sítios arqueológicos havia muito para se conhecer sobre o que os Wajãpi pensam a respeito dos sítios. Sem falar no tanto que os Wajãpi conhecem sobre outras coisas que nós arqueólogos não consideramos sítios, mas que podem funcionar como sítios nos seus próprios termos. Nesta pesquisa, eu busquei conhecer a maneira como os Wajãpi constroem explicações sobre o passado utilizando vestígios de outros tempos, os traços materiais que seguem disponíveis hoje na sua terra. A partir da ideia de que todos são arqueólogos (a transposição para a arqueologia de uma sugestão do antropólogo Roy Wagner), entendo a arqueologia como um modo de conhecer que pode ser praticado em diferentes grupos. Meu exercício, ao acompanhar e participar do encontro dos Wajãpi com a arqueologia, foi investigar que arqueologia era esta praticada por eles. Os resultados apontam para uma arqueologia fortemente embasada nas percepções sensoriais, em um entrelaçamento entre coisas e pessoas que – diferentemente do conhecimento científico – tem na subjetivação o seu valor intrínseco.