Passar-Espalhar-Tirar: Uma etnografia do existir de peconheiros, compradores e passadores de açaí do Rio Bacabal-Afuá/PA.
Açaí in natura; Passar-Espalhar-Tirar; Saber-fazer; Marajó das florestas
Nos últimos decênios o açaí in natura passou por uma expansão que acabou por torná-lo em um dos grandes produtos da balança comercial amazônica, expandindo-o às fronteiras globais e revelando seu caráter plástico a partir da diversa ampliação em seus usos e consumos. Contudo, quando levado a uma análise mais aproximada, o comércio do açaí in natura demonstra a um só tempo que a grande responsabilidade por manter este quadro aquecido se encontra nos ombros de um extrativismo de caráter tradicional, engendrado pelo exercício de práticas e saberes amazônicos gestados no sabor do cotidiano de homens e mulheres locais. O presente trabalho pretende apontar reflexões acerca do saber-fazer envolvido no exercício destas práticas culturais e simbólicas que existem em favor do comércio do açaí in natura, aqui entendido por meio das categorias nativas que exprimem a experiência de troca, negociação, confiança e desconfiança ao passar-espalhar-tirar os paneiros e o açaí in natura. Para tanto, tem-se recorrido à gramática nativa, às sensibilidades de mundo e os saberes coletados em entrevistas e observações no exercício etnográfico de um campo espraiado por entre os labirintos estuarinos que ligam o munícipio de Afuá-Pa à Feira destinada ao produto, em Belém do Pará.