Coleções tombadas em reservas técnicas saturadas: o abandono institucional do patrimônio arqueológico
Gestão de Acervo; Musealização; Tombamento; Patrimonialização.
Com objetivo de discutir como as políticas de preservação patrimonial repercutem nos processos de gestão de acervos arqueológicos herdados do passado e salvaguardados em museus e instituições congêneres, a pesquisa desenvolve uma ação de reflexiva sobre articulação dos agentes e das agências envolvidos no sistema de preservação institucional do patrimônio arqueológico. Considera-se que esses acervos arqueológicos herdados do passado, mantidos, muitas vezes, em reservas técnicas saturadas e com condições inadequadas, vem sendo questionados enquanto legado de ações de saques e espólios que passam a integrar uma cadeia de produção de referências de memória e ao mesmo tempo são contestados pelos diferentes coletivos humanos no contexto de reivindicação de direitos sobre o patrimônio cultural. Tomou-se como investigação principal a coleção tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional do Museu do Ceará, a fim de analisar uma estratigrafia do abandono, evidenciando as fragilidades das instituições responsáveis pela preservação do patrimônio cultural. Trata-se de uma análise reflexiva da atuação profissional em uma instituição museológica com custódia de um acervo arqueológico tombado. A discussão ressaltou a assimetria das relações entre coletivos humanos interessados no patrimônio arqueológico e os sistemas institucionais de preservação, por meio do delineamento da cadeia operatória de curadoria de acervos museais e das políticas patrimoniais. Nesse sentido, argumenta-se a importância de desenvolver um processo de musealização ancorado em ações de colaboração e participação coletivas com os diferentes stakeholders, a fim de engendrar uma gestão de acervo reflexiva, que viabilize a abrangência da imaginação museal, compreendendo os museus e instituições congêneres como zonas de contato e de ação da cidadania patrimonial.