Todas as dores da alma – uma só dor: um estudo antropológica sobre o medo, a vergonha e a culpa em relatos de vítimas de estupro
visibilização; estupro; mulheres; medo; vergonha; culpa.
O presente estudo tenciona enfatizar o protagonismo de mulheres vítimas de estupro, partindo da importância da denúncia e da visibilização desse tipo de crime realizado contra elas em seus relatos publicados em plataformas digitais. Para tanto, analiso a violência sexual enquanto parte do patriarcalismo e seus mecanismos de controle historicamente constituídos para obstruir a compreensão dessa forma de violência, bem como os estereótipos estabelecidos quanto ao estupro, à vítima e ao estuprador — termos empregados pelo senso comum e repetidos no âmbito judiciário que as submetem a constantes revitimizações. Por tratar-se de uma violência que concatena agressão física, sexual e psicológica, urge a deslegitimação da cultura do estupro respaldada pelo patriarcalismo visando à garantia do direito das mulheres ao exercício livre e digno de sua sexualidade, luta travada há anos por movimentos sociais feministas, continuada atualmente sob diversas formas, que incluem o ativismo online mediado por grupos de apoio que encorajam as vítimas à denúncia, fornecendo-lhes o suporte necessário. Nesse sentido, pretendo destacar, nos relatos de dor compartilhados por suas autoras no ciberespaço, algumas das emoções decorrentes do crime, tais como medo, culpa e vergonha que evidenciam a intensidade do trauma com o qual lidam e a dificuldade vivenciada na busca por superá-lo, traduzidas no ato de autorrepresentação de suas histórias, direito negado pela prática do silenciamento imposto social e institucionalmente. Ao relatarem, elas apoiam outras vítimas e constroem redes de apoio entre si criando uma indispensável ferramenta para esclarecimento, reivindicação de direitos e estratégia de resistência à naturalização das violências contra as mulheres.