Corpo, Sexualidade e diferenciação de gênero no ritual do Daime no CICLUJUR-PA em Santa Izabel-PA
Corpo; Gênero; Sexualidade; Ritual; Ayahuasca
Este texto disserta sobre a produção da diferenciação de gênero e da sexualidade nos corpos a partir da análise do ritual da Doutrina do Daime, manifestação religiosa baseada no consumo da bebida psicoativa ayahuasca, iniciada durante os anos de 1930 na capital do Estado do Acre, Rio Branco. A partir da participação e observação dos rituais e do cotidiano da comunidade do “Centro de Iluminação Cristã Luz Universal de Juramidã Pará – CICLUJUR-PA” situado em Santa Izabel-PA, realizo uma leitura da Doutrina do Daime como uma tecnologia que reproduz os efeitos dos ritos na subjetividade dos corpos dos participantes membros afiliados, os fardados.
Retomo a trajetória da fundação da Doutrina do Daime em Rio Branco-AC e os principais elementos rituais para problematizar a marcada distinção dos participantes em homens e mulheres dentro dos ritos e refletir sobre este aspecto na construção da pessoa fardada.
A partir da etnografia elaborada com participações nos rituais e interlocução com pessoas LGBTQIA+ que são membros do CICLUJUR-PA, evidencio a relevância da disciplina, dispositivo-chave para o funcionamento da relação dos rituais com a produção de identidade e alteridade de gênero, de idade e de sexualidade observadas nas cerimônias. Problematizo como a disciplina atua na (re)produção da diferenciação dos homens e mulheres durante os rituais e indago sobre os efeitos que este dispositivo tem sobre a subjetividade das pessoas LGBTQIA+ enquanto praticantes da Doutrina.
Com isto, quero propor reflexões sobre a sociabilidade de pessoas LGBTQIA+ em espaços de consumo ritual da ayahuasca marcados pela moral cristã e pela configuração ritual típica da Doutrina do Daime.