De colonialismos e memórias sitiadas: História, antropofagia e tecnologia bélica nas guerras guianenses
Colonialismos. Memória e História Afro e Indígena. Amazônia caribenha.
Considerando que a produção de uma História Afro e Indígena apresenta-se, em muitos casos, como uma história de impossibilidades, visto a dificuldade teórica e metodológica das Ciências Sociais em lidar com um passado caracterizado pela ausência de registros escritos, pressupõe-se que as possibilidades de produção da História Étnica, narrada nos próprios termos, estão diretamente relacionados ao conhecimento e tradução da memória autóctone. Exercício de documentação/tradução/interpretação que percorre diferentes métodos mnemônicos e narrativos, no caso em tela, discorrendo sobre o tema da colonização que sulca a história da invasão de um Caribe periférico, situado á região do Baixo rio Oiapoque. Na produção acadêmica é comum o exercício de reinterpretação e/ou correção da memória coletiva a partir da produção historiográfica, mas os dados da pesquisa em curso aparentam propor uma pergunta invertida: as memórias afro e indígenas podem auxiliar na correção e/ou complementação dos cânones historiográficos? E pressupondo que podem, em que medida? Perseguindo a questão, o texto procura identificar a traduzir aspectos constantes das memórias de pessoas etnicamente diferenciadas marcadas pelo advento da Colônia, em que guerra, exercício de alteridade, aliança interétnica e violação/recomposição de direitos territoriais parecem fazer parte de uma mesma dinâmica. A tradução das narrativas de guerra de quatro povos habitantes do Baixo rio Oiapoque, constantes do texto, convergem no sentido de propor a invasão colonial como um dos marcos fundantes da historicidade afro e indígena. Nesse sentido, foi possível constatar que a colonização perpetrada por diferentes povos e agências europeias à região das guianas – colonialismos que prevalecem de distintas maneiras no presente – constituem-se como o fio enredador que nos permite não só recompor, como entrecruzar as memórias e Histórias recentes e remotas dos povos e narradores alcançados, desvelando, finalmente, como cada grupo étnico representa e compreende as hierarquias, alianças e dissonâncias constantes do mundo pós-colonial.