Memórias, Varinhas e Re-existência: Uma Etnografia dos Saberes da Ilha de Mosqueiro – PA
varinhas bordadas; saberes; re-existência; memória.
A ilha de Mosqueiro em Belém-Pará sempre foi cenário de variadas experiências interculturais poucas vezes valorizadas pelo olhar etnográfico. Frente ao exposto, a pesquisa analisa as narrativas de mulheres-bordadeiras e outros sujeitos e seus processos de luta em defesa de seus saberes e memórias, num movimento de re-existência de sua história e manifestações locais. Nesse cenário emergem as varinhas bordadas como um símbolo vivo na vida e nas lembranças das comunidades da ilha. Esse objeto de saber e memória, foi um souvenir encantado, produzido em massa até 1976 quando, ao ser inaugurada a ponte que liga a ilha ao continente, encerrou o acesso massivo de visitantes por via fluvial. A descontinuidade da prática revela tensões que inviabilizaram outras manifestações típicas da cultura popular e que ainda implicam na repressão dos saberes representados, e as varinhas constituem a materialidade desses saberes. O que à princípio poderia tratar-se apenas do comércio de lembranças da ilha, acabou ganhando contornos antropológicos mediante experiências reatualizadas nas heranças geracionais. A tese demonstra com isso que a continuidade dessas experiências tem espaço nas expressões populares com a legitimidade política e pedagógica, negligenciada e silenciada ao longo de décadas por governos e organizações que se opõem deliberadamente a essas manifestações coletivas.