A Musealização da Cultura Material Marajoara em Museus Brasileiros e Norte Americanos
Musealização; Arquipélago de Marajó; Coleções; Literatura de Viagem.
Durante o século XIX a América do Sul foi repetidamente visitada por homens e mulheres das ciências que buscavam apresentar, aos olhos da ciência, os territórios visitados. As narrativas das aventuras vividas por elas e eles se materializavam em diários, livros e artigos que hoje formam a chamada Literatura de Viagem. Resultado também destas viagens é a existência de diversas coleções de história natural formadas durante as expedições e que hoje enriquecem as vitrines de museus brasileiros e internacionais. O Arquipélago de Marajó, neste sentido, chamou a atenção dos expedicionários por seu patrimônio natural e, principalmente, por sua cerâmica arqueológica e etnográfica que foi largamente almejada por museus e universidades no século XIX e que levou a uma exploração exaustiva dos tesos da região e a dispersão de artefatos por instituições dos quatro cantos do globo. Buscamos com este trabalho mapear coleções marajoaras hoje preservadas em museus do Brasil e dos Estados Unidos com o objetivo maior de analisar a historicidade da musealização das coleções arqueológicas e etnográficas, focalizando sentidos da institucionalização dos artefatos e narrativas construídas sobre populações marajoaras representadas a partir dos objetos. Tomamos como marco teórico central para análise de nossas fontes os estudos decoloniais através de nomes como Walter Mignolo, Anibal Quinjano e Santiago Castro-Gomez, em diálogo com a perspectiva pós-colonial, nomeadamente os trabalhos de Stuart Hall. Defendemos, dentre outros, que os “museus modenos/colonais” foram poderosas ferramentas imperiais na medida em que atuaram como espaços de normatizações, onde diferentes consciências históricas foram traduzidas para uma visão única e universal científica fundada em premissas evolutivas. Por fim, também buscamos desenvolver estudos iniciais sobre a chamada cerâmica de Breves, umaindústria oleira largamente difundida na vila homônima e repetidamente registrada por viajantes do oitocentos, mas que hoje é pouco conhecida frente a popularidade dos artefatos arqueológicos.