Quilombo Patos do Ituqui (Santarém, Pará): etnicidade, conflitos intergrupos e terras de ocupação tradicional
Quilombo; Etnicidade; Território
O quilombo Patos do Ituqui, objeto desta pesquisa etnográfica, está localizado na mesorregião do Baixo Amazonas, mais especificamente em Santarém, no estado do Pará. De acordo com a memória social do grupo, foi formado por antigos escravos libertos da fazenda Taperinha que ali se estabeleceram em 1911 a partir da ocupação de uma família originada na fazenda. Autorreconhecido como quilombo em 2013, Patos do Ituqui está inserido em um cenário de conflitos socioambientais que envolvem a disputa pelo uso da terra, rios e lagos. Tanto os conflitos interétnicos que contrapõem interesses de fazendeiros à comunidade quilombola, quanto as disputas intergrupos que emergem nesse contexto de reivindicação territorial como quilombo junto ao Estado brasileiro mediante procedimento administrativo em curso aberto no INCRA constituem temas a serem desenvolvidos neste trabalho de pesquisa, a partir de uma análise situacional, visando a construção de uma etnografia dos processos políticos envolvidos no reconhecimento das terras de quilombo na fronteira amazônica. Os modos de ser, fazer, criar e viver de Patos do Ituqui, como em outras comunidades tradicionais, é diretamente relacionado com suas experiências individuais e do grupo em interação com o meio ambiente nas atividades de caça, pesca, extrativismo vegetal, agricultura e pecuária de pequeno porte. O exercício dessas atividades seguem uma lógica própria do grupo segundo o ciclo de desenvolvimento familiar e de atividades de reprodução, no qual pode-se afirmar que os danos causados pela extração ilegal de madeira, queima de áreas florestais e pesca predatória de peixes no território quilombola transformam a lógica de reprodução social e cultural e os modos de conhecimento tradicionais garantidos pelos artigos 215 e 216 da Constituição Federal de 1988.