PEIXE-FRITO, SANTOS E BATUQUES: Bruno de Menezes em Experiências Etnográficas
Bruno de Menezes; Etnografia; Literatura; Folclore; Interculturalidade.
Nesta tese empreendo um estudo que intenta, primordialmente, apresentar uma outra chave de leitura para a produção intelectual de Bruno de Menezes (1893-1963), o qual obteve destaque no cenário cultural amazônico como um grande literato. Assim, procuro reconstituir importantes aspectos de sua trajetória de vida, destaco representações do cotidiano da cidade de Belém advindas de suas experiências sociopolíticas e focalizo a diversidade e a pluralidade de vozes, provenientes da interculturalidade latente na Belém da primeira metade do século XX. Neste exercício, exploro o viés etnográfico em algumas de suas principais composições, linha interpretativa escolhida para ressignificar os estudos sobre o literato negro. Para alcançar o objetivo central da investigação, em outras palavras, a tese que costura o trabalho, algumas questões fizeram-se norte: Que experiências etnográficas conformam as trajetórias de vida de Bruno de Menezes? Como o intelectual percebia a si e aos outros em suas escrituras? Em que condições e circuitos o literato realizou pesquisas e produziu escritos sobre a dinâmica cultural em cenários paraenses da Amazônia? Por fim, qual a importância de Bruno enquanto um pensador social para o contexto amazônico na primeira metade do século XX? A formulação e compreensão destas questões estão ancoradas no cruzamento teórico-metodológico de um saber-fazer etnográfico que se alinhava nas conexões da Antropologia com a Literatura e o Folclore, os Estudos Culturais, Pós-Coloniais e a História Oral e se verticaliza num campo em que obras literárias, pesquisas de cunho folclórico, fotografias e relatos orais reconstituem evidências de e sobre o escritor em tela. Frente ao exposto, divido o texto acadêmico em duas partes: na primeira, trato dos vários percursos traçados por Bruno ao longo de sua existência e enfatizo as redes estabelecidas, as quais contribuíram para a formação de seu fazer-se e repertório crítico. Na segunda parte, abordo três produções de Bruno de Menezes – Boi Bumba: auto popular; São Benedito da Praia: Folclore do Ver-o-Peso e Batuque. A intenção é reconstituir e analisar a experiência etnográfica dessas composições literárias e ousar incluir o negro jurunense no rol dos grandes pensadores acerca da cultura na Amazônia, indo, dessa forma, para além do aspecto literário, faceta pela qual Bruno é deveras reconhecido. Assim, penso que a partir de todo cabedal epistemológico no qual a tese se ampara, outro Bruno de Menezes é descortinado, o esteta da palavra é também um etnógrafo da Amazônia paraense.