A chegada das barragens e as transições nos modos de vida de “vazanteiros pescadores” do Médio Rio Tocantins
vazantes, pesca, conhecimentos tradicionais, reciprocidade
O objetivo geral da tese é analisar as transições no modo de vida dos “vazanteiros pescadores” do médio rio Tocantins proporcionadas pelas barragens “Luiz Eduardo Magalhães (TO)” e “Estreito (TO/MA)”. Os estudos das etapas que dão corpo aos capítulos da tese estão sendo realizados sob a égide das abordagens metodológicas a saber, a observação participante, entrevistas semiestruturadas e não estruturadas, etnografia de arquivos e a ecologia política. A expressão nominal, “as transições nos modos de vida” é usada como uma categoria central para explicar os processos de mudanças no modo como essas pessoas enquanto remanescentes das gerações que os antecederam nessa região pensam, vivem e concebem o lugar onde estão estabelecidos há mais de dois séculos. Os resultados mostram que as mudanças nos ecossistemas intensificadas pelos megaempreendimentos, sobretudo, as barragens, se estendem às principais relações socioculturais que conformam os modos de vida desses camponeses. As barragens dividiram a temporalidade local em dois períodos, o primeiro denominado por eles de “antigamente” e “tempo bom” refere-se ao tempo que se estende até 2001 quando foi instalada a UHE de Lajeado/TO; o segundo é o período pós barragens, o qual é marcado por conflitos e resistências entre os atores sociais locais e os atores externos (consórcio e o Estado, imigrantes e pescadores). Com efeito, é por esse contexto que as barragens situam-se na retórica local como o principal vetor das transições nos modos de vida local. Elas destruíram as atividades produtivas, a agricultura de vazante e a pesca tradicional, com as quais esses camponeses e suas gerações têm-se auto sustentado. Ao mesmo tempo, é por força dos conhecimentos etnoecológicos tradicionais acumulados ao longo de várias gerações, através de seus modos particulares de lidar com a natureza (água e terra) de uma maneira recíproca, que esse coletivo social é um exemplo concreto da capacidade de reprodução e continuidade do campesinato.