O POVO DO FUNDO: cosmologias em construção e territorialidades no Baixo Amazonas
Territorialidade, cosmologia, identidade étnica, mundo do encante
Esse é um trabalho de pesquisa etnográfica desenvolvido na região do Baixo Tapajós e Amazonas entre agentes sociais e religiosos de diferentes identidades étnicas (indígenas, quilombolas) e os autoatribuídos pajés, curadores, benzedores e puxadores. A pesquisa tem por objetivo apreender como a cosmologia está imbricada no território, para tal questão foi necessário acessar diferentes localidades, relatos, modos de viver. Na perspectiva, a prática de cura, fundamentada na viagem sob o fundo do rio feito pelos sacacas, aparece como uma dimensão territorial, ultrapassando os limites de fronteiras das comunidade, no qual mundo do encante, os animais, encantados, mestres são assinalados numa relação cotidiana dos agentes sociais. O que esses agentes sociais ao ressaltar a importância dos lugares, moradas de encantados, o encante, bichos, visagens trazem como contribuição para a sociedade, enquanto detentores de um tipo de conhecimento relacionado aos recursos ambientais: rios, matas, igarapés, bichos? Diante do contexto de conflitos entre madeireiros, sojicultores e o avanço de projetos de infraestruturas (portos, estradas, etc.…), os quais têm devastado em larga escala florestas nativas, assoreamento dos rios e envenenando solo, como organizar-se-á a reprodução e a manutenção do modo de vida desses povos? Como se dará a busca pelo conhecimento no fundo dos rios? Dessa maneira, a interpretação dos dados me leva a seguinte tese: é possível pensar o território sem cosmologia? Se a identidade não se separa do território, a cosmologia vem separada? Recorri à etnocartografia como meio de obtenção de dados, realizei entrevistas, conversas informais, coligi documentos, documentários, conversas em WhatsApp. Os relatos dos agentes sociais revelam que a cosmologia está diretamente associada a identidade étnica, a luta pela permanência nos territórios.