“PARECE QUE JÁ ‘TÁ’ PREDETERMINADO ONDE VOCÊ VAI TRABALHAR, O QUE VOCÊ VAI FAZER”: crítica da empregabilidade trans.
empregabilidade trans; teoria crítica; ideologia; alienação.
O objetivo deste trabalho é investigar a ideologia da empregabilidade trans, identificando o conjunto de ideias que se materializam em diversas práticas sociais, as quais geram uma compreensão falsa sobre a maneira como o mercado de trabalho funciona para pessoas trans, ignorando as contradições entre a promessa do mercado de trabalho de oferecer igualdade de condições a todos e as experiências negativas vivenciadas por pessoas trans. Uma das etapas desta pesquisa consiste em investigar o fenômeno da alienação que contribui para a formação e manutenção da ideologia, na medida em que gera a apatia e a indiferença consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Nesse sentido, alienação e ideologia possuem uma dinâmica entre si responsável por interferir negativamente na construção do self do sujeito, o qual se subjetiva de maneira a não se compreender como uma pessoa que pode se apropriar adequadamente de si mesmo e de sua vida, e do mundo. Para desenvolver esse estudo, o trabalho analisará os dados coletados no projeto de pesquisa “Trabalho, Emprego e Renda Trans: estudo sobre o acesso ao mercado de trabalho de pessoas transgêneras no estado do Pará”, especialmente as respostas oferecidas pelas pessoas entrevistadas em Belém do Pará, à pergunta de número 45 do questionário que consiste em “Qual o maior sonho da sua vida?”, somado a isso, deseja-se analisar as entrevistas longas semiestruturadas. A tese defendida neste trabalho é que o mercado compreendido como instituição social está baseado em uma ideologia que não nos permite compreender adequadamente a realidade vivida por pessoas trans, e portanto, impede o bom funcionamento e a realização de uma boa vida para essas pessoas. Essa ideologia está estruturada a partir de uma articulação de práticas alienantes, que incidem sobre diversos aspectos da constituição da subjetividade de pessoas trans, qualificando-as como pessoas incapazes de contribuir para a criação e modificação de si mesmas, do outro e do mundo. Nesse sentido, a partir dessas considerações, o trabalho busca responder à pergunta-problema: de que maneira a ideologia da empregabilidade trans estruturada por práticas alienantes impede a participação de pessoas trans na instituição do mercado de trabalho? De que modo esse processo se desenvolve e influencia a constituição da identidade trans?