Lignóides das folhas de Virola surinamensis (Rol.) Warb com potencial anti-chagásico e leishmanicida avaliados por estudos in silico e in vitro
Leishmania amazonensis; Trypanosoma cruzi; Virola surinamensis (Rol.) Warb.; Lignóides; Dinâmica Molecular; Docagem Molecular
A Leishmaniose e a doença de Chagas são doenças tropicais negligenciadas que podem afetar mais de 1 bilhão de pessoas que vivem em áreas de risco e levam a aproximadamente 30 mil óbitos ao ano. O tratamento para essas enfermidades apresenta limitações terapêuticas com quadro de resistência aos medicamentos, toxicidade e altos custos. Portanto, existe uma necessidade urgente de novos agentes quimioterápicos para estas doenças, que sejam mais eficazes e com menos efeitos colaterais. Neste sentido, a descoberta de alvos que possam ser explorados no desenvolvimento de novos fármacos leishmanicidas e anti-chagásicos é de extrema importância. Assim, este trabalho teve como objetivo investigar a bioatividade de lignóides isolados das folhas de Virola surinamensis (Rol.) Warb., como possíveis inibidores da tripanotiona redutase e cruzaína. Foram obtidas cinco substâncias codificadas como S1-S5 do extrato acetato de etila das folhas de Virola surinamensis por procedimentos de cromatografia clássica e de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) e a identificação ocorreu por métodos espectrométricos de Ressonância Magnética Nuclear de Hidrogênio-1 e de Carbono-13 uni- e bi-dimensionais (1D e 2D). Simulações de Docagem Molecular nos programas Fitted 2.6 e Gold 5.5 foram realizadas para observar as interações dos ligantes com o sítio ativo das enzimas cruzaína (PDB ID: 3I06) e tripanotiona redutase (PDB ID: 2JK6) por meio do programa Chimera 1.13.1rc e PoseView. Na docagem com a cruzaína e a tripanotiona reductase foi possível constatar interações da substância S4 com resíduos importantes das enzimas. Na Dinâmica Molecular realizada com o programa Amber 16, os valores de energia livre da interação entre o ligante e as enzimas submetidas aos estudos in silico foram calculados usando os métodos MM / GBSA e MM / PBSA. A substância S4 apresentou valor de energia livre (MM / PBSA = -29,737 ± 2,75 e MM / GBSA = -37,078 ± 3,84) para cruzaína e (MM / PBSA = -27,664 ± 3,5 e MM / GBSA = -30,417 ± 279) para tripanotiona reductase, onde os valores de RMSD (Root Mean Square Deviation) para cruzaína ficaram abaixo de 2Å e para Tripanotiona redutase abaixo de 3,5 Å. As substâncias S4 e S5 apresentaram notável atividade contra as formas epimastigota e tripomastigota de Trypanossoma cruzi, a S4 com IC50 de 35,0 ± 1,430 µg/mL e 16.61 ± 1.137 µg/mL, respectivamente e S5 apresentou IC50 de 7.056 ± 1.115 µg/mL para tripomastigota e para epimastigota 28.1 ± 1.116 µg/mL . Entretanto, contra formas evolutivas de Leishmania amazonensis S4 demonstrou IC50 para promastigota de 2.930 ± 1.073 µg/mL e para S5 3.126 ± 1.063 sendo possível observar índice de seletividade (IS > 10), mostrando serem substâncias com potencial, apontando para a corroboração dos resultados in vitro de S4 com os resultados observados in silico.