EDUCAÇÃO MENOR EM ACONTECIMENTOS CONVIVIAIS: Confabulações e devires minoritários no In Bust teatro COM bonecos e no Casarão do Boneco
Educação Menor. Acontecimento convivial. Teatro Menor. Micropolítica. Teatro com Bonecos.
Neste trabalho, direcionamos nosso olhar para as experiências artísticas realizadas pelo grupo de teatro In Bust Teatro com Bonecos e pelo espaço de cultura de artes cênicas Casarão do Boneco, ambos de Belém do Pará. Olhamos, porém, estas experiências teatrais como acontecimentos conviviais e as entendemos como vias menores de trânsito de micropolíticas. Confabulações relacionais de modos de ver mundos, presentificadas, possibilitando vínculos sociais e donde se dispara devires minoritários com arte e provocam-se rebeldias afetivas, vislumbres revoltosos de outros futuros. Um grupo de teatro, em forte coeficiente de desterritorialização, se põe a “rasgar mato” e se reterritorializa em um limbo de categorização, deseja e realiza um casarão de cultura de artes cênicas, que, tramado por outros grupos e artistas como território existencial, se expõe em coletivo. Estas experiências são discutidas em um âmbito de deslocamentos do conceito de “Literatura Menor”, apresentado por Gilles Deleuze e Felix Guattari. Quando o reposicionamos em conjugação com as palavras Teatro e Educação, no nível do convívio mediado pela obra teatral e potencializado pela partilha como princípio político, acende em movimentos do Casarão e do In Bust confabulações na trama de uma língua menor. Nesse processo o ato de se dispor para a cidade é a resistência de um pensamento focado no direito ao acesso às manifestações artísticas e culturais e à expressão livre, de ideias, de maneiras, de diversidades, de ter a arte como ofício e profissão. O grupo instala territorialidades, algumas bem efêmeras, voláteis, mas escapa-se por fugas que se fazem no percurso, constrói caminhos e deixa rastros e puxa outros, se deixa puxar, engata em outros, brotam pontas de conexões. Junta as fraquezas para ter a força. Um casarão, vários grupos insistentes em fazê-lo vivo, ativo na peleja pela cidade e articulado a outros espaços de culturas. Teatro assim não se restringe à função de expressão, não se comunica num sistema na ordem da linguagem, é um acontecer vital na ordem da experiência. Gera entes potentes que se instalam assim que desaparecem, transcendem. Relacionam-se entre si e com tudo o mais em volta e instauram, no encontro, uma zona de experiência e subjetivação, engendrada pela apropriação e uso da política do olhar pela teatralidade do teatro. Um campo convivial entre expectação e poiésis, que nem é um e nem é outro. (Jorge Dubatti, 2016). Maneiras de teatros traduzidos em convivências, formas de convívios revisados pelas cenas, tempo ficcional em embaralhamento com o “ao vivo”, presentificação como argamassa na construção dramatúrgica, conversas fiadas em devir-realidades. O Teatro Menor, conforme argumentado por Heloisa Marina (2017), quando atravessa a perspectiva do acontecimento, faz apontar um viés formador, educacional, que está no convívio, no presente do acontecimento teatral. Uma educação menor, conforme argumentado por Silvio Gallo (2008). E entendemos que onde o teatro menor se encontra com uma educação menor o ato político se evidencia, na insistência em um estado de comprometimento com as transformações no que está estabelecido, com a singularização, com valores libertários. É na experiência vivida que se faz transitar micropolíticas. Provocar isto. Fazê-lo por dentro do que se cria e expõe como cena. Quantas afecções de efeitos imediatos instalados numa apresentação de teatro com bonecos (brincadeira de mamulengo, contação de histórias) são necessários para enfraquecer ganâncias ou incentivar cordialidades sinceras, no próximo sábado à tardinha? Os artistas-educadores destas convivências estão pela abundância da partilha, não pela escassez do domínio. Estão noutra linha de relação com o planeta (todos precisamos estar) e podem ter consciência desta postura como atitude pedagógica menor. Inventores artísticos dos fazeres de uma educação menor, que produzem com a experiencia do teatro e da educação uma permanente reinvenção em minorações. Fluxos relacionais diminutos e constantes, em diversas velocidades, como água transitando pela floresta, vinda da chuva, de escorrer dos troncos e folhas, entrando e saindo nas raízes, descendo pelos córregos, misturando em lama da beira do rio, sendo rio ou evapotranspirando para chover novamente. Assim, pretensamente, apontaremos uma possibilidade pedagógica, que se dá na resistência, engendrada como menor, que supomos potente e revolucionária.