CONTRIBUIÇÃO RESPECTIVA DA CINEMÁTICA E DA APARÊNCIA NA PREDIÇÃO DA AÇÃO
Predição da ação; Modelos internos da ação; Cinemática biológica; Espaço peripessoal; Reabilitação neurológicA
As representações corticais do movimento humano envolvidas na predição da ação vêm sendo amplamente estudadas. Porém, ainda há muitos questionamentos acerca dos fatores moduladores desses mecanismos. Por exemplo, já se sabe que os neurônios espelho estão diretamente relacionados à predição da ação, e que participam não somente da representação motora de atos observados, como também são ativados previamente à sua execução. No entanto, isso não acontece pela simples visualização de objetos ou pessoas. Essa ativação estaria relacionada a uma correlação semântica, ou seja, a existência de uma significância ou congruência entre a ação observada e o objeto alvo, ocorridos dentro do espaço peripessoal do efetor/ator observado. A aparência do ator/efetor e do objeto observado seria um fator determinante para ocorrer essa ativação? E a cinemática dos movimentos observados, seria um fator importante? Estes foram os questionamentos que nortearam este trabalho. Nosso objetivo geral, portanto, foi investigar os efeitos da cinemática e aparência do efetor sobre a predição do tempo de contato entre a mão e o objeto ocorrendo dentro do espaço peripessoal do ator. Para isto, participaram do experimento 31 estudantes universitários, 9 homens e 22 mulheres, e utilizamos um protocolo de observação de vídeos com ações de alcance-preensão dirigidas à objetos, e ações de movimento dos objetos dirigidos à mão, em uma tela de computador, em duas condições visuais - oclusão da visão (OV), e visão completa (VC), e duas condições cinemáticas – biológica (movimento humano – MH, em dois blocos, MH1 e MH2; e objeto biológico – OB) e não biológica (objeto não biológico – ONB). A tarefa do participante consistia em prever o tempo de contato mão-objeto pressionando a barra de espaço do teclado. A diferença temporal (ms) entre a estimativa do tempo de contato pelos participantes e o tempo de contato real representa o erro de predição. Adotamos uma ANOVA para medidas repetidas (2 condições visuais vs. 3 condições cinemáticas) para comparar os erros de predição. O posthoc de Holm foi usado para comparar os efeitos significantes (p < 0,05). Como resultados, encontramos um efeito da cinemática sobre a magnitude do erro de predição, sugerindo que a aparência do efetor não seria um fator categórico para a ativação dos mecanismos preditivos, desde que a cinemática observada possua um caráter biológico. Nossos resultados experimentais sugerem o desenvolvimento de protocolos complementares à reabilitação tradicional fundamentados em tarefas preditivas baseadas no conhecimento do mecanismo ação-predição. A introdução de tarefas preditivas possibilitaria um maior controle atencional e um maior engajamento do sistema motor.