Entre ictiotóxicas, cunambís e timbós: o (saber-saber) e (saber-fazer) pesqueiro e patrimônio da Comunidade Bom Jesus, Abaetetuba, Pará
Conhecimento Tradicional. Pescadores. Timbó. Cunambí. Plantas ictiotóxicas.
A utilização de plantas ictiotóxicas para fins pesqueiros é uma prática comum entre
as comunidades tradicionais amazônicas. A comunidade Bom Jesus, localizada no
município de Abaetetuba-Pará, é um exemplo de comunidade tradicional que faz uso
de plantas tóxicas para a captura de peixes, prática reconfigurada com o tempo. O
objetivo deste trabalho é pesquisar o (saber-fazer) e (saber-fazer) referente às
modalidades pesqueiras e catalogá-las como forma de documentação enquanto
patrimônio, sendo o principal alvo o uso de plantas ictiotóxicas. Os dados sobre as
técnicas de pesca que os pescadores fazem uso, foram obtidos por meio de
entrevistas informais, entrevistas semiestruturadas, observação direta, turnês-
guiadas e observação participante, tendo como principal método a etnografia da
pesca. As modalidades de pesca mencionadas foram pesca com rede, vara e anzol,
assim como a inserção de novas técnicas, tal como o uso do visor (pesca
subaquática) e a criação de peixes através de redes de tanques. Em relação ao uso
de plantas ictiotóxicas, as espécies mencionadas foram o cunambí (Clibadium
surinamensis L.) e o timbó (Deguelia aff. utilis (A.C. Sm.) [A.M.G. Azevedo]), e suas
partes, mais comumente usadas, por apresentar toxidade, foram, respectivamente,
folhas e raiz. O timbó é a planta mais utilizada para fins pesqueiros e também vem
sendo cultivada pelos entrevistados. O repasse de conhecimento segue as
particularidades regionais, podendo se diferenciar da forma como é feito em outras
comunidades. O uso das plantas ictiotóxicas (timbó e cunambí) na comunidade tem
se mostrado menos frequente que antigamente. Assim, é fundamental conhecer,
aprender e documentar os saberes desta comunidade para que a atividade se
mantenha presente entre as gerações atuais e futuras.