COM QUANTOS NARIZES SE FAZ UMA PALHAÇA?:
O desvelar dos Modos de Ser e de Existir de Aurora Augusta
Palhaçaria. Modos de existência. Palhaça-atriz. Energia-Anima e Energia-Animus.
Esta pesquisa de doutoramento em Artes se insere no campo epistemológico da Comicidade, especialmente da Palhaçaria, tangendo para uma investigação sobre os modos de ser e de existir de minha persona palhacesca – Aurora Augusta, no intuito de desvelar sua ânima, isto é, seus estados, temperaturas, características. Ao esgarçar o olhar sobre a minha palhaça Aurora Augusta, lanço-me em uma um escarafunchamento da dualidade existente entre mim, a atriz, e ela, o que de certa maneira, em meus dois trabalhos acadêmicos (TCC e dissertação), mas em outros estudos acadêmicos e também em processos práticos/artísticos, os questionamentos e indagações sobre quem era minha palhaça me acompanharam e acompanham; assim, nesta pesquisa de doutoramento, sigo a trilha para desvelar sua ânima. Ao mergulhar nessa proposta de pesquisa, sou lançada em um campo de investigação que me faz pensar na seguinte questão: que persona é essa que eu trago comigo, que é o próprio espelho de mim, mas que reflete diferente? Hipoteticamente inquieta, vislumbro que nas fricções existentes neste emaranhado atriz-palhaça, Aurora mantém seus próprios traços, uma ânima própria, seja em cena ou fora dela. Mas Aurora é um ente, uma persona que já nasceu comigo ou foi/vem sendo construída ao longo dos meus processos artísticos? Seria somente o nariz vermelho, a menor máscara, o elemento responsável por acionar a psiquê da Aurora? No desfiar da pesquisa que se apresenta movente, converso com os estudos teóricos e práticos a saber: Marton Maués (20212; 2004), Romana Melo (2016), Alessandra Nogueira (2009), Alana Lima (2019), Nohemi Luna (2020), Marcelo Colavitto (2016), Alice Viveiros de Castro (2005), Andréa Flores (2020; 2019), Stefanie Polidoro (2020), Ana Elvira Wuo (2016), Rodrigo Robleño (2015), Ricardo Puccetti (2009), Renato Ferracini (2003) Wládia Correia (2020), Eugenio Barba (1994), David Lapoujade (2017), Daniel Munduruku (2019), Aristóteles (2010), Bachelard (1996), Jung (2002; 1984), Manoel de Barros (2018), Conceição Evaristo (2019), Lilia Chaves (2000), Greganich (2010), Pedro Cesarino (2008), dentre outros. Em termos metodológicos, lanço-me a trabalhar na dimensão da Bricolagem, procedimento cujo produto gerado mostra, de alguma forma, um pouco do que é o artista, a maneira como se comunica com o mundo, expondo seu universo, seu imaginário e sua capacidade de articular discursos distintos. Para Denzin e Lincoln (2006, p. 18), o bricoleur confecciona colchas utilizando as ferramentas estéticas e materiais do seu ofício, empregando quaisquer estratégias, métodos ou materiais empíricos que estejam ao seu alcance. Logo, irei bricolar procedimentos artísticos (meus processos com os Palhaços Trovadores), os escritos de poetas e literatos que fazem parte de minhas leituras e prazeres, as conversas com os parceiros de cena e de palhaçaria da cidade, além de escarafunchar os diários (impressos e virtuais) com as discussões de e sobre a minha palhaça, aos álbuns de fotografias e relatos de família, amigos. Ainda no desfiar da pesquisa, ancoro-me nas discussões de Sylvie Fortin (2009) ao tratar das contribuições da Autoetnografia para a pesquisa na prática artística. Aciono essa metodologia por enveredar pelo processo de composição e criação de Aurora Augusta, que vai incidir na minha prática artística. Ao desvelar os modos de existência dessa mulher-palhaça chamada Aurora Augusta, que atua na Amazônia, acredito a grande contribuição que minha pesquisa de doutoramento trará para o campo das Artes, principalmente da Palhaçaria. Atualmente, o movimento da Palhaçaria Feminina está cada vez mais intenso, e aprofundar as pesquisas sobre nossas palhaças é de extrema importância, política e historicamente falando.