CASA DE LUIZA: memória e afro-fabulação
Corpo-memória, cinema negro, documentário, quilombo, Marajó, Soure
Casa de Luiza: memória e afro-fabulação, é uma pesquisa-obra em Artes em desenvolvimento que parte da reflexão e construção de narrativas visuais de famílias negras no cinema documentário do tipo performático; tendo o falecimento de minha avó Luiza como disparador do processo de coleta, colagem e diálogo de distintas formas de memórias, pessoais e dos sujeitos que compartilham desta memória. Num processo de aproximação e apropriação de conceitos e reflexões, construo como base discursiva, três mulheres pensadoras, pesquisadoras, artistas, a saber: Beatriz NASCIMENTO (1989) e sua definição do corpo negro como corpo memória, quilombo, a escrevivência de Conceição EVARISTO (2005) entendendo a necessidade e potência de uso da minha voz e corpo no domínio e escrita de outra linguagem, por muitas décadas também nos negada, a linguagem audiovisual; e a perspectiva do torna-se sujeito de Grada KILOMBA (2019) compreendendo este aspecto na constituição da minha ação enquanto pesquisador-artista. Em um afrofabular fílmico, passado, presente e futuro são instanciados na compreensão de uma ancestralidade da diáspora que nasce da fuga, fabulados num constante recriar de verdades, verdades estas a serem compartilhadas no texto de artista defendido por Rosana Paulino (2011). Ao retornar ao Marajó e revisitar a casa de minha avó no município de Soure, observei ausências, busquei por um passado que não vejo. A não materialidade de uma história familiar, entre fotos, vídeos e gravações caseiras, tão presentes em filme documentários do estilo performático, como conceituam Nichols (2007) e no contexto brasileiro são estudados por Blank (2015), me levaram a encontrar, na casa, o ponto de partida para a (re)construção da história desta família. A escrevivência desta história está nas paredes, nos rastros de vida ali deixados, em fotos dispersas, em vozes múltiplas, fios de vida ainda por alinhavar.