O AUTO DO SANTO PRETO E A BÊNÇÃO DAS TRÊS FOMES:
A carnavalização-afeto das festividades jurunenses de São Benedito em Belém do Pará.
PALAVRAS-CHAVE: São Benedito. Festa. Espetacularidade. Carnavalização.
Este trabalho traduz a imersão dos últimos dez anos de minha vida nos passos das muitas procissões, festas, ladainhas, alvoradas integrantes do complexo de eventos que compõem as festividades dedicadas a São Benedito, realizadas anualmente no bairro do Jurunas, em Belém do Pará, entre o fim do mês de julho e início de agosto. Imersão vivida na carne de um carnavalesco-etno-devoto, por meio da qual percebo essas festividades como práticas culturais espetaculares, possuidoras de um vocabulário simbólico requintado tendo função de linha que borda e une memórias, pertencimento, identidades, identificações, singularidades, em um único estandarte, burlando tensões sociais; ações sustentadas pelo que nomeio de carnavalização-afeto, conceito formulado à luz dos entendimentos de carnavalização, festa e afetos, a partir de Mikhail Bakhtin, Émile Durkheim, Michel Maffesoli e Davi Le Breton. Em seu horizonte epistemológico, o trabalho é construído sobre o vislumbre do mundo como texto, pela visão de Paul Ricouer, da antropologia interpretativa, de Clifford Geertz, das sociologias compreensiva e orgiástica, de Michel Maffesoli, e da antropologia das emoções, de Davi Le Breton. Em sua perspectiva metodológica, somada a seu horizonte epistemológico, o trabalho é produto etnocenológico, trazendo a própria vivência daquele que pesquisa como ferramenta do olhar, de onde emerge o conceito de espetacularidade e o vislumbre dessas festas como Práticas e Comportamentos Humanos Espetaculares Organizados. O trabalho, por fim, traduz-se na leitura burlesca do carnaval das escolas de samba, guiando a pesquisa das procissões beneditinas pelo olhar espetacular de um enredo de escola de samba, juntando, num mesmo bordado, pesquisa, vida artística e afetações que de mim e sobre mim emanam.