POÉTICAS NÔMADES: pesquisa-criação do espetáculo tentativadoc2.0 a partir de elementos da cena expandida e intermedial
Pesquisa-criação. Cena expandida. Cena intermedial. Tecnopoética. Performatividade da tecnologia
Esta tese traz como questão central a feitura de um processo de criação cênica, onde o procedimento de investigação inclui considerações acerca do uso de elementos presentes na cena expandida e na cena intermedial como possibilitadores de um acontecimento teatral tecnopoético. A pesquisa entende a noção de tecnopoética consoante a sua delimitação conceitual, segundo o que se define como faculdade criadora obtida por meio da materialização de uma sensibilidade maquínica. Tal ideia tem por fundamentação as proposições de tecnoestética desenvolvidas por Gilbert Simondon e discutidas por seus comentadores, e por pressupostos os aspectos ontológicos da obra de arte técnica/tecnológica a partir da virada maquínica da sensibilidade ocorrida após a primeira revolução industrial. Em sequenciamento, o trabalho se contextualiza no campo de estudo das poéticas cênicas contemporâneas, especificamente dos modos de pesquisa fundamentados na prática, a exemplo da pesquisa performativa ou guiada-pela-prática – performative research - postulada por Brad Haseman, a prática como pesquisa - practice as research, defendida por Robin Nelson, tese-criação – practice-basis thesis –, por Sylvie Fortin e Pierre Gosselin, e pesquisa-criação - recherche creation, preconizada por Mireille Losco-Lena. Assim, a pesquisa busca desenvolver procedimentos e protocolos em torno da prática realizada, por meio da criação de uma materialidade tecnopoética, acompanhada de posterior análise. A esse propósito, voltou-se o olhar para a poética presente no objeto técnico, entendido não somente como o aparato maquínico, mas também como a própria obra de arte. Deste modo, a obra intitulada tentativa.doc 2.0, resultante desse processo de pesquisa-criação apresentado, se circunscreve nos territórios híbridos da cena expandida e intermedial. Sua tecnopoética tem, como disparadora composicional, a noção de nomadismo em seus múltiplos sentidos: geográficos, estéticos e poéticos, onde os performers instauram um jogo entre eles próprios, entres eles e os objetos técnicos e entre eles, objetos técnicos e espectadores, construindo, com isso, uma experiência coletiva tecnoconvivial, segundo define Jorge Dubatti, quando cada indivíduo modula um ao outro, deflagrando com isso, nas palavras de Josette Fèral, uma performatividade da tecnologia. A empreitada se conclui na capacidde de o artista lidar com dispositivos digitais além dos seus estatutos usuais enquanto acessórios, indo ao alcance da ativação, desenvolvimento e trocas de percepções dentro de um composto eminentemente presencial, ainda, ou até porque, virtual.