NO TRAJETO DAS ÁGUAS, MEMÓRIAS DO SAGRADO FEMININO NA GRAVURA AFRO AMAZÔNIDA
Cultura afro-brasileira; Memórias; Feminino; Gravuras
A pesquisa investiga os processos de arte que deram origem as séries de gravuras “No trajeto das águas sobre o sulco dos rios”, “As águas”, “A mulher cujos filhos são peixes”, e “Sagrado feminino”. Pretende identificar as técnicas de gravura utilizadas e a relação com o tema das imagens gravadas. A investigação do processo artístico previu a necessidade de um estudo tanto teórico quanto prático, abrangendo o levantamento bibliográfico e do acervo de gravuras da própria artista, prática em ateliê, memórias e vivências pessoais que geraram anotações sobre os processos gráficos da produção de gravuras. As memórias partem das recordações de lugares, de objetos, de pessoas, das travessias de barco, da infância e os trajetos percorridos entre o rio e o mar, além das vivências advindas da tradição afro-brasileira, nas quais estão presentes representações do sagrado feminino que percorrem as águas amazônicas, provenientes da ancestralidade, dos vestígios de um lugar guardado na memória. Em referência à memória se tem como base a teoria de Maurice Halbwachs e Aleida Assmann, assim como Jan Assmann e seus estudos relacionados à pertencimento. Outro autor fundamental é Pierre Verger que afirma que a religião dos orixás está ligada à noção de família, e que Iemanjá e Oxum abrem um mundo encantado: o das águas salgadas e doces. Ainda sobre a cultura afro, estão presentes Lydia Cabrera e Reginaldo Prandi que esclarecem a maneira como as divindades femininas das águas se apresentam. O universo das águas, retratado nas gravuras, está associado ao sagrado-feminino, à cosmovisão de mundo afro, aos valores civilizatórios afro-brasileiros