DELÍRIO EM RIO MAR: paisagem como experiência e partilha, narrativas entre caminhar e coletar
errância; coleta; paisagem; ficção; Amazônia
Entende-se o conceito de paisagem como um lugar epistemológico habitado por diferentes campos do conhecimento. Dessa forma, a presente pesquisa busca contribuir para os entendimentos sobre a paisagem, desde uma perspectiva interdisciplinar a partir do enfoque das artes, pensada na Amazônia, atravessada por contribuições de outros territórios. A construção do trabalho, em parte, se debruça sobre o percurso metodológico desenvolvido ao longo da pesquisa, perpassa por um memorial dialógico de processo de criação e conclui com um ensaio literário-visual no formato de livro de artista. Reúne-se como principais pensadores a filósofa Anne Cauquelin, o xamã Davi Kopenawa com o antropólogo Bruce Albert, o poeta Michel Collot e o antropólogo Tim Ingold, bem como articula-se trechos da literatura marajoara de Dalcídio Jurandir, para pensar a paisagem entre a experiência e a partilha. A partir desta apreensão conceitual e uma experiência vivida no vilarejo de Joanes, ilha do Marajó – na qual mulheres, homens e crianças coletam sementes que chegam a cada maré – produz-se um esboço para uma possível poética da coleta, a partir da leitura de cinco trabalhos de arte contemporânea, bem como um ensaio narrativo sobre materialidade, temporalidade e potência imaginante a partir da imagem simbólica de uma semente. Neste trecho, diálogos de superfície entre Tim Ingold, Henri Bergson e Gaston Bachelard integram os conceitos de mundo aberto, duração e instante. Na sequência, apresenta-se um memorial dialógico que narra processos de criação da obra Exílio do Tempo – produzida durante a pesquisa – na medida que dialoga com temas transversais como narcisismo e lugar de fala, e imagens-semente e constelações imaginantes. Ao final, no formato de livro de artista, se apresenta um ensaio literário-visual, como desdobramento de reflexões teóricas e experimentações plástico-poéticas, no intuito de contribuir para uma apreensão sobre o conceito de paisagem, que se dá, sobretudo, entre a experiência daquele que, no fluxo movente, sente, percebe e partilha.