O declinio da cena cabocla em narrativas de artistas da cena em abaetetuba
Abaetetuba, fofoia, cena cabocla, narrativas de artistas
A temática explorada neste texto, incide em encontrar nas narrativas de artistas de Abaetetuba, referências de gerações diferentes, mostrando como a arte em seu movimento de mudanças e incorporações, apresenta uma relação com o tempo e o lugar. Sobre o tempo há diferentes ritmos e acentos marcando a dinâmica da “vida abaeteuara”, assim como em outros lugares na Amazônia. Nas paragens ribeirinhas quando ainda ouviam-se os “tiradores” das fofoias, a passagem do tempo era marcada pela maré enchendo e abaixando, na lançante e vazante; tempo no qual a oportunidade era marcada pela canoa indo de proa. Tempo sentido qualitativamente em tempo bom e tempo ruim. Era o tempo da natureza com seus ciclos, e do trabalho coletivo e artesanal de fazedoras de cuias, dos paneiros e das panacaricas.
As transformações históricas trouxeram a devastação e a paisagem, no início sutilmente, para em seguida, drasticamente, se modificar, e um outro tempo vai sendo sentido, o tempo líquido da modernidade, o avesso gerando uma trama, na qual o elo estético existente entre homem e natureza vai, progressivamente, sendo rompido. E o declínio da cena cabocla é percebida, paralelamente, ao aparecimento de um cenário social com graves problemas. Se a modernidade vai apagando gradualmente, pelas forças desestabilizadoras, certos traços daquela cultura cujos contornos eram refletidos na cena cabocla, há por outro lado, um movimento de resistências e enfrentamento, protagonizado por vários artistas, e é neste sentido que, um recuo, o ato de revisitar suas práticas, abre possibilidades de uma oposição a essa tendência em curso, divergindo do discurso do progresso e da deformação dos modos de vida construídos coletivamente na história dos povos amazônidas.