MARGEM 5
Cidade; Pregões de Rua; Margem; Ary Lobo; Memória.
A confluência entre dois estudos que venho adensando dentro do universo musical popular brasileiro, um sobre os pregões de rua e outro sobre a vida e obra de Ary Lobo (artista que teve sucesso nacional entres as décadas de 50 e 70), possibilitou a experimentação de mais um passo criativo em meu trajeto acadêmico, enquanto artista e pesquisador. Desta vez, em uma narrativa memorial e poética, acompanho, em meio ao universo dos melódicos anúncios de venda e de paisagens sonoras, a visita sui generis deste saudoso intérprete paraense, em sua terra natal, Belém do Pará. Para acolher de volta esta inusitada presença, um território de memórias e afetos atemporais é acionado para que andarilho Ary Lobo caminhe livre e reencontre, pela boca de seu povo, finalmente, a sua cidade, ou a cidade que forjei para este momento. As duas pesquisas se cruzam, como se cruzam as esquinas de duas ruas, revelando neste enquadramento de cidades, real e memorial, a fresta de uma quinta margem, um portal que pode ter cada um de nós, em nossas profundas lembranças, do lugar que nos inaugura e nos identifica. Uma instalação artística multilinguagem, projetada a partir de um real tabuleiro de pamonha, ganha as vozes e as luzes de um "cinema transcendental" para restaurar as imagens destas vidas.