DIBUBUÍSMO POR RIOS ANTES NÃO NAVEGADOS: NARRATIVAS DE UMA PERFORMER PESQUISADORA
Performance; Dibubuísmo;Amazônia; Refugiados
Trata-se de um memorial poético prático composto pelas narrativas do processo criativo. Tem ancoragem autobiográfica e nasce no âmbito da performance buscando compreender o que move o fazer artístico no campo desta linguagem onde o corpo é o suporte e conteúdo ao mesmo tempo na formação do testemunho artístico. Seu fio condutor é a prática do dibubuísmo segundo Paes Loureiro, para quem representa o ato de seguir boiando no rio, ir levado pela correnteza, rio abaixo, rio acima e sob o império das marés. Tal conceito é tomado como metodologia de pesquisa. Na busca pela materialização do objeto aqui proposto, permite-se a constituição de um território de experiências com organismos femininos moventes da etnia venezuelana Warao em condição de refúgio na capital do Estado do Pará, bem como seus filhos menores, indo a fundo nos peraus preamares rebujando memórias sedimentadas nos escaninhos de meu inconsciente, fazendo delas imagens sobreviventes que alimentam o processo artístico. A viagem transcursou com intercorrências, onde marés lançantes me direcionaram por outros furos e igarapés. Encalhei e desencalhei várias vezes. Urdi com fios de papel crepom um vestido-corpo que joguei nos ombros e levei - no sentido literal do termo - para passear. Visitei meu quintal, uma pequena centelha da Amazônia, uma gotinha de chuva precipitada em terreno belenense; hidratei as árvores e, com suas folhas, pari corpos-folhas que gentilmente convidei para dibubuiar comigo no mangue de Algodoal. Os rastros dessa jornada estão espalhados pelas páginas deste memorial e abrangem conteúdos e práticas que se referem, sobretudo ao itinerário de minha viagem. No ir e vir de marés lançantes frequentam-se imagens conceituais pinçadas de diversos campos do conhecimento, as quais se constituem em ferramentas simbólicas, lugares de onde se parte na busca pelo exercício de dibubuísmo aqui proposto
[1] Dibubuísmo. Conceito Cunhado por Paes Loureiro que significa o ato de seguir boiando no rio, ir "de bubuia", levado pela correnteza.