Amatória
Memória útero-familiar, artes visuais, crônicas, sexualidades magoadas, restituição do amor.
Resumo: Amatória, travessias de uma pratica artística que reescrevem o meu corpo, é o fluxo marinho de minha memória afetiva-útero-familiar; exteriorizar um fazer em arte/vida de crônicas e experiencias de género que atravessam os territórios cotidianos das sexualidades e feminidades magoadas. Por isso, a escritura está em primeira pessoa: exercício para me escutar e entrar no self básico primordial ferido, ademais ler o que tinha que ser dito em tinta, em verbo, em palavra, em texto, ali onde as imagens não podem chegar ou se aproximar na pratica de meu fazer em artes visuais.
De modo que, meu passado em Amatória, surge como na pratica de uma consciência política da lembrança, ao mostrar seus rastros, pegadas, testemunhos de abuso, assédio, feminicídio e estupros na triada avó-mãe-filha; triada feminina, aonde torna-se visível a tradição do sistema patriarcal que há tempo desumaniza a nós, as mulheres como sujeito de prazer e sujeito político, colocando-nos como a imagem sociocultural de objetos-fetiches dos espaços públicos-domésticos: lugares que no cotidiano há a latência da violência de gênero e a possibilidade prática de agressores, assassinos e estupradores de exercitá-la, pois foram educados e estimulados cultural e socialmente para o ataque.Amatória é memória reconstruída em arte/vida apresentando a dor como umbral iniciático de uma dor sociocultural coletivo. O público e o domésticos tramam-se como os espaços políticos da intimidade sexual que foram mediados também pela religião e a ideologia judeu-cristã machista, portanto, de gênero.Fotografias, colagens, ilustrações, gráficas, e escritura, é um encontro na sororidade através de um processo criativo que ativa a ligação imanente com o útero, e a Deusa Suja, reafirmando a força orgástica-criativa-instintiva-múltipla e empoeirando uma pratica artística-visual que reescrevem o meu corpo, guiando-me na restituição da vida amorosa e ao Cuidado de Si. Nos fines metodológicos da Amatória, proponho a criação de seis corpos políticos: a amante andante, o corpo lar, o corpo útero-familiar, o corpo crónica, o corpo criador e, o corpo imaginado, aonde a memória amatória é transversal, pois a presencia dela é existencial-imanente, caminha em meu corpo como mulheres múltiplas, onde o animal instintivo-criativo-orgástico, exerce seu pensamento político-feminista, o qual é alimentado através dos aportes das psicólogas Clarissa Pinkola Estés e Blanca Elisa Cabral, os caminhos antropológicos: sobre estupro de Rita Segato e os estudos da imagem do corpo de Hans Belting, os analises socio-críticos de cultura e a arte das críticas da arte e feministas latino-americanas, a Nelly Richard e a Carmen Hernández, sem esquecer das repostas procuradas para o Cuidado de Si, na terapia fenomenológica de Bilê Tatit Sapienza.