ROUPA DE CABOCA: Encruzilhadas Etnocenológicas do Terreiro Estandarte do Rei Sebastião - Outeiro/PA.
Palavras-chave: Roupa de Caboca. Tambor de Mina. Ritos Espetaculares. Etnocenologia. Encruzilhadas.
Tendo a Etnocenologia, a Etnografia e a Antropologia da Religião como teorias fundantes, esta pesquisa apresenta um estudo denso a respeito das roupas utilizadas nas Festas das entidades Herondina, Maria Légua e Jarina – são encantadas, ou seja, que não passaram pela experiência da morte, e dentro do panteão do Tambor de Mina estão na categoria de caboclos ou entidades mestiças, em contraposição a outra categoria composta por nobres europeus encantados, conhecidos como nobres gentis nagôs ou senhores de toalha. As roupas em questão pertencem e são utilizadas pela mãe-de-santo e zeladora do Terreiro Estandarte de Rei Sebastião, Mariinha de Jesus Costa Feio – localizado na Ilha de Outeiro, Pará. Além de descrever densamente este terreiro e as festas, o foco deste trabalho recai nas roupas utilizadas pela mãe-de-santo, por se entender que as roupas nesse contexto contribuem para a Espetacularidade vivenciada durante os Ritos Espetaculares de Tambor de Mina, pois há toda uma organização prévia para as festas, como a decoração do espaço, a disposição das comidas, das bebidas, das obrigações para a entidade, e da escolha da roupa que será utilizada neste dia festivo, pois antes de se agradar pessoalmente, a mãe-de-santo quer agradar sua caboca, por isso se tem um respeito acerca do código cromático, do tecido, do chapéu, do lenço, das pulseiras e dos guias que comporão a visualidade para este momento considerado tão especial para os que estão dando a passagem para as suas entidades. Observar as roupas em seu contexto de uso possibilitou ao longo da pesquisa a abrangência da noção de alteridade, pois as vivências me trouxeram à tona, encruzilhadas – neste trabalho, com a acepção de fronteiras que unem ou separam – não apenas de tecidos, mas de gestos, de sotaques, de danças, de bebidas, em uma festa de Mina é possível se vislumbrar a confraternização de povos que outrora habitaram diferentes lugares do mundo, mas que naquele momento comungam do mesmo espaço de maneira afetual. Acredito que este trabalho além de contribuir para os estudos Etnocenológicos na Amazônia, já que o Tambor de Mina é uma prática religiosa que tem muita força no Pará, apesar de ter sua origem em terras maranhenses; é também de suma importância para os que trabalham com roupas em um contexto geral e mais especificamente aos Figurinistas, que muitas vezes são convidados a criar roupas religiosas, e é necessário que se atentem para o chamado da Etnocenologia, o de estar junto, de ir e viver o fenômeno do uso das roupas, para não incorrer em desrespeitos ao sagrado. Para este trabalho, se utilizará a terminologia “caboca”, pois é assim que os praticantes da Mina falam e também trago no feminino, tendo em vista que as roupas estudadas pertencem a entidades femininas. O período de vivência no Terreiro, para fins de pesquisa acadêmica, teve início em junho de 2015 e finda em abril de 2016, período este em que se vivenciará as três grandes festas das entidades já citadas anteriormente.