DINÂMICA TRÓFICA DO ACARÁ Geophagus argyrostictus (Cichliformes: Cichlidae) NA VOLTA GRANDE DO RIO XINGU, BRASIL
Amazônia, dieta, peixes, pulso de inundação, isótopos estáveis
Os sucessivos eventos de cheias e secas dos rios em áreas de planície, conhecido como pulso de inundação, é um dos principais preditores da ecologia trófica dos peixes neotropicais, influenciando diretamente nas redes alimentares da fauna aquática. As fontes de carbono e nitrogênio que adentram as cadeias podem ter diferentes origens de acordo com a variação hidrológica sazonal dos rios. Por exemplo, em período de águas altas é comum encontrar recursos de origem terrestre (alóctones), como plantas e insetos quando comparado com períodos de águas baixas. Consequentemente, a assimilação destes elementos influencia o nível trófico que os consumidores podem atingir. Sendo assim, o objetivo do presente plano de qualificação é avaliar o efeito do pulso de inundação na ecologia trófica de peixes, utilizando o ciclídeo Geophagus argyrostictus, espécie endêmica do rio Xingu (bacia Amazônica), como modelo de avaliação biológico. Tais aspectos da
ecologia trófica serão investigados combinando a inspeção do conteúdo estomacal e análise isotópica ao longo de um ciclo hidrológico. As coletas foram realizadas mensalmente entre dezembro/2020 e novembro/2021, na região conhecida como Volta Grande do Xingu, utilizando malhadeiras e tarrafas. Após a captura, removemos o trato digestivo dos indivíduos para posterior identificação dos itens alimentares consumidos, além de amostras de tecido muscular da região dorsal dos peixes para as análises de composição isotópica. Possíveis fontes alimentares (p.ex., insetos, material vegetal, sedimento) também foram coletados para as análises de isótopos. A variação da composição da dieta e a amplitude de nicho foram avaliadas por meio de uma PERMANOVA e PERMDISP, respectivamente, utilizando valores do Índice de Importância Alimentar das categorias tróficas identificadas. Adicionalmente, avaliamos a intensidade alimentar em relação às cotas de vazão do rio por meio de um Modelo Linear Generalizado (GLM). Por fim, avaliaremos a variação das assinaturas isotópicas de carbono e nitrogênio dos peixes e recursos alimentares por meio da visualização gráfica (biplot). A variação da composição isotópica dos peixes em relação a vazão do rio também será avaliada utilizando um GLM. Esperamos observar variação da dieta, bem como das assinaturas isotópicas, entre os períodos de águas altas e baixas, considerando a mudança de contribuição de recursos de origem alóctones e autóctones de acordo com a variação sazonal, sendo o primeiro geralmente mais evidente nos períodos de enchente e cheia.