Efeitos de estressores antrópicos e de diferenças metodológicas na decomposição foliar em ambientes aquáticos da Amazônia
fragmentação, matéria orgânica, plástico, aquecimento, ecossistemas aquáticos, vieses metodológicos
Os ecossistemas de água doce são continuamente ameaçados por múltiplas atividades antrópicas (e.g., poluentes emergentes e mudanças climáticas) que afetam a biodiversidade aquática e funções ecossistêmicas (e.g., decomposição da matéria orgânica). Entre os poluentes emergentes, os plásticos se destacam pela sua ubiquidade, abundância e persistência ao longo do tempo. Além disso, outra preocupação sobre os plásticos é a sua capacidade de ser degradado em partes cada vez menores (e.g., micro e nanoplásticos), tornando-se biodisponíveis para uma variedade de organismos de água doce e em diferentes níveis das redes tróficas. As mudanças climáticas, assim como os plásticos, representam um desafio para os ecossistemas de água doce alterando a qualidade, causando perda da biodiversidade e de serviços ecossistêmicos, através do aumento da temperatura e da acidificação desses ecossistemas. Embora, os plásticos e as mudanças climáticas sejam tratados como questões separadas, eles estão intrinsecamente ligados, visto que ao longo de toda a sua vida os plásticos emitem gases de efeito estufa (GEE). Além disso, eventos climáticos extremos (e.g., tufões e fortes tempestades) podem aumentar a poluição por plásticos nos ambientes aquáticos. Nesse sentido, medidas que reduzem a poluição por plástico podem ajudar na redução GEE e, consequentemente, nas mudanças climáticas. Atualmente, uma alternativa promissora aos plásticos convencionais e que podem reduzir a emissão GEE, são as embalagens compostáveis e biodegradáveis (e.g., plásticos de base biológica), contudo, os efeitos da entrada dessas embalagens na colonização e degradação em ambientes naturais como rios e riacho ainda são amplamente desconhecidos. Tal como a poluição por plásticos e as mudanças climáticas podem alterar o funcionamento de ecossistemas aquáticos a partir da redução da sobrevivência e do consumo dos fragmentadores, diferentes abordagens metodológicas em estudos experimentais como, escolha de espécies fragmentadoras, abrigo (i.e., com ou sem) e oxigenação da água (i.e., com ou sem), origem da água (i.e., mineral ou riacho) e luminosidade (i.e., com ou sem) podem afetar a sobrevivência e o consumo de fragmentadores, gerando vieses na obtenção, bem como interpretação de resultados. Portanto, estudos que avaliem os efeitos dos microplásticos e das mudanças climáticas, embalagens compostáveis e diferenças metodológicas sob insetos aquáticos fragmentadores e na decomposição foliar são necessários, devido a importância decomposição da matéria orgânica na ciclagem de carbono e nutrientes e como fonte energética em ecossistemas de riachos. Em virtude desse cenário, este projeto de tese tem como objetivo principal verificar os efeitos de estressores antrópicos (i.e., microplásticos, mudanças climáticas e embalagens compostáveis) e diferentes abordagens metodológicas (i.e., espécies fragmentadoras, remoção do abrigo e oxigenação da água, origem da água e luminosidade) nos insetos fragmentadores de riachos amazônicos, bem como na decomposição foliar. A partir dessas informações, esta tese de doutorado foi estruturada em três capítulos com os seguintes objetivos: Capítulo I – avaliar o efeito dos microplásticos e mudanças climáticas (i.e., aumento da temperatura e CO 2 ) na sobrevivência e consumo de uma espécie fragmentadora de riachos amazônicos; Capítulo II – avaliar a colonização por invertebrados fragmentadores e decomposição de embalagens compostáveis de uso único (i.e., descartáveis) em riachos amazônicos; e Capítulo III – avaliar o efeito de diferentes abordagens metodológicas no consumo e sobrevivência de fragmentadores. Para a qualificação iremos apresentar os resultados do Capítulo I e as propostas dos demais capítulos (II e III). Em nosso primeiro capítulo, constatamos que tanto os microplásticos quanto as mudanças climáticas têm efeitos letais no fragmentador, aumentando o risco de mortalidade. O consumo do fragmentador foi afetado negativamente apenas pelas mudanças climáticas. Nossos resultados indicam que o microplástico e as mudanças climáticas têm fortes efeitos sob a sobrevivência e/ou consumo de fragmentadores de riachos amazônicos. Além disso, os efeitos do microplástico e das mudanças climáticas podem afetar não apenas a nível populacional, mas também o funcionamento do ecossistema (por exemplo, ciclagem de nutrientes). Abordagens integrativas para melhor entender e mitigar os efeitos de ambos os estressores são necessárias, devido a poluição plástica e as mudanças climáticas coocorrem no meio ambiente.