DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO E ONTOGENIA DA JARARACA DA AMAZÔNIA BOTHROPS ATROX (LINNAEUS, 1758) (SERPENTES: VIPERIDAE)
Embriologia; Ontogenia; Dimorfismo; Serpentes
Estudos embriológicos são observações diretas das alterações fenotípicas ao
longo do tempo e permitem aumentar o poder explicativo das hipóteses da
história evolutiva das linhagens. As comparações nestes estudos dependem da
definição dos estágios embrionários que tradicionalmente são definidos pelas
transformações morfológicas externas. O desenvolvimento de novas técnicas
associadas à um arcabouço teórico da biologia do desenvolvimento em
conjunto com a sistemática filogenética tem reascendido o interesse nos
estudos embriológicos em diversos grupos de vertebrados. O estudo do
desenvolvimento morfológico de répteis teve um papel fundamental no
estabelecimento dos padrões de relacionamento entre os tetrápodes, na
identificação de estruturas homólogas e para entender questões fundamentais
sobre a evolução da diversidade morfológica, incluindo formas extremas do
corpo, como perda de membros e alongamento do esqueleto axial. Apesar do
crescente interesse na embriologia dos vertebrados, há poucos estudos do
desenvolvimento embrionário das serpentes. A jararaca Bothrops atrox é uma
serpente pertencente à Família Viperidae que apresenta ampla distribuição na
região norte da América do Sul, incluindo a Amazônia brasileira. É o viperídeo
mais comum da região, de hábitos predominantemente noturnos e dieta
generalista, pode ser encontrado em ambientes florestais e áreas perturbadas
em toda bacia amazônica. Vários estudos sobre a biologia de B. atrox apontam
a presença de dimorfismo sexual no tamanho do corpo e cabeça, onde as
fêmeas apresentam tamanho corporal maior e cabeça mais larga que os
machos, e relatam mudanças ontogenéticas em vários aspectos: na
composição de veneno, na dieta e no uso do substrato, onde os juvenis são
mais arbóreos e se alimentam de presas ectotérmicas enquanto os adultos são
terrestres e se alimentam de presas endotérmicas. Apesar dessas informações,
nenhum estudo mais complexo que explore como ocorrem tais mudanças em
estruturas internas, como o crânio, ou o seu desenvolvimento embrionário, foi
realizado. Embora uma grande parcela da diversidade de serpentes se
encontre na região Neotropical, o conhecimento embriológico sobre os grupos
de serpentes amazônicas ainda é muito esparso e limitado. Por se tratar de
uma espécie comum com ampla distribuição e facilidade de encontro, Bothrops
atrox representa um bom modelo de estudo onde, a partir do estudo inédito de
sua embriologia, pretende-se descrever os possíveis processos do
desenvolvimento embrionário pré- e pós-natal do crânio e do hemipênis que
podem ser responsáveis por variações morfológicas presentes na espécie.