JARARACAS E CASCAVEIS - POTENCIAIS DISPERSORAS DE SEMENTES NA AMAZÔNIA
Serpentes; Dispersão indireta; Germinação; Interação; Predação
A dispersão de sementes desempenha um papel crucial na manutenção da biodiversidade e no
funcionamento dos ecossistemas. Além da relação planta-herbívoro, a interação com animais
predadores, como as serpentes, pode atuar como um segundo vetor na dispersão de sementes.
Essas interações complexas, chamadas dispersões diretas e indiretas, respectivamente,
contribuem para a colonização de novos ambientes pelas plantas. Algumas plantas dependem
dessas da passagem pelo trato digestivo dos animais para quebrar a dormência das sementes,
seja por meio de processos químicos ou físicos. Quando a semente passa pelo trato digestivo
do animal, sustâncias inibidoras da germinação presentes na testa são degradados, permitindo
que a germinação ocorra. Além disso, na dispersão indireta, as sementes são propagadas além
da distância percorrida pelos seus dispersores diretos, o que possibilita que a população
vegetal alcance novos ambientes. Enquanto muitas espécies de animais vertebrados, como
peixes, aves e mamíferos, são reconhecidas como importantes dispersoras de sementes, o
papel das serpentes nesse processo ainda é novidade. Nesse contexto, há evidências crescentes
de que algumas espécies de serpentes, especialmente em áreas abertas, desempenham um
papel relevante na dispersão indireta de sementes através da predação de roedores. Na região
amazônica brasileira, a complexidade dos ecossistemas e a alta biodiversidade de Squamatas
dificultam a investigação dessas relações. Diante disso, nosso objetivo, nesse estudo, é avaliar
o potencial de dispersão indireta de sementes utilizando como modelo espécimes de serpentes
Bothrops atrox e Crotalus durissus na Amazônia, visando responder as seguintes perguntas:
A) O estado de dormência das sementes de Bauhinia pulchella e Sporobolus multiranosus é
afetado pela ingestão indireta das serpentes? B) A ingestão indireta dessas sementes pelas
serpentes afeta sua germinação ou viabilidade? Para isso realizaremos o experimento em
laboratório para simular ingestões indiretas que ocorrerão durante 30 dias, divididos em dois
momentos: o primeiro envolverá a coleta de fezes de B. atrox e C. durissus em cativeiro, no
Centro Herpetológico da Amazônia. Alimentaremos os espécimes com roedores pré-abatidos,
enxertados na primeira semana com Sporobolus multiramosus (Poaceae), contendo 30
sementes por roedor, para cada indivíduo de serpente (30:1:1). Após 14 dias repetiremos o
processo, substituindo a espécie de gramínea por Bauhinia pulchella (Fabacea) e a quantidade
de sementes por roedor (20:1:1). Assim simularemos, através das cobaias, roedores de áreas
abertas que dispersam sementes diretamente em ambiente natural, como o cricetídeo
Necromys lasiurus. O segundo momento ocorrerá em parceria com o Grupo de Pesquisa em
Tecnologia Ambiental do Instituto Tecnológico Vale Desenvolvimento Sustentável (ITVDS)
para a germinação das sementes. Triaremos o material fecal, separando as sementes para
serem alocadas em placas de Petri e submetidas a germinação em Fitotron®, em condições
que simulam o ambiente de Canga, ecossistema de onde as sementes foram coletadas. Duas
vezes por semana essas sementes serão monitoradas e classificadas como germinadas, ou seja,
quando houver emergência da radícula. Após 30 dias as sementes que não germinarem serão
imersas em sal de Tetrazólio para confirmar viabilidade, dormência ou morte do embrião,
através da análise topográfica do embrião em corte sagital. O efeito da ingestão indireta na
germinação e viabilidade das sementes será ajustado em um modelo linear generalizado com
distribuição binomial (GLM) utilizando o software R.