EFEITO DO PLANTIO DE DENDÊ SOBRE A DIVERSIDADE FUNCIONAL DE AVES NA AMAZÔNIA ORIENTAL
PLANTIO; DENDÊ; DIVERSIDADE; AVES; ; AMAZÔNIA; ORIENTAL
A agroindústria, a extração ilegal de madeira e a mineração estão entre as principais causas da diminuição das florestas tropicais, as quais respondem por aproximadamente 17% de todo o desmatamento na Amazônia Legal até o ano de 2014, (INPE, 2013). Somente no Centro de endemismos Belém, que possui uma área de cerca de 243 mil Km², abrangendo os estados do Pará e Maranhão (SEMAS, 2012), estima-se que os remanescentes de floresta primária representem apenas 24% do seu território, e que a agropecuária e a extração de madeira ocupam mais de 30% de sua área (Almeida & Vieira, 2010).
Dentro do macro-setor da agroindústria, umas das práticas que mais tem convertido florestas em áreas de cultivo é o plantio do dendê (Elaeis guineenses, Jacq.), com crescimento global de aproximadamente 9% ao ano (Fitzherbert et al.,2008). Esse crescimento se deve à grande demanda pela indústria alimentícia, de cosméticos, produtos de higiene e recentemente de biocombustíveis (Koh, 2008; Corley, 2009). Esse plantio está entre as práticas que mais alteram a paisagem na Amazônia, ocupando 166 mil hectares, com capacidade instalada de 340 toneladas, (Repórter Brasil, 2013; EMBRAPA, 2013). No Brasil esta prática se concentra na região leste da Amazônia brasileira, no nordeste paraense, que historicamente sofre fortes alterações antrópicas relacionadas, principalmente, as práticas da agroindústria, isso se deve à sua posição geográfica estratégica que facilitou a implantação dessas práticas, constituindo uma das mais antigas áreas de colonização na Amazônia (Watrin el al.,1998).
Estudos conduzidos no sudeste asiático, onde se localizam as maiores áreas da produção mundial de dendê, onde a maior parte da expansão do cultivo se deu através da conversão da floresta nativa (Wakker, 2004; Koh & Wilcove, 2008), demonstram que as áreas de plantio de palma não suportam espécies florestais (Danielsen et al., 2009), levando a forte perda na riqueza de espécies e modificação na estrutura das comunidades bióticas (Koh 2008; Fitzherbert et al. 2008; Danielsen et al. 2009; Azhar et al. 2011; Azhar et al. 2013; Savilaakso et al. 2014). Estudos realizados na Amazônia brasileira mostraram que áreas de plantio possuem menor riqueza de espécies de Heteroptera, anuros e aves quando comparadas a floresta nativa (Cunha et al., 2015; Correa et al., 2015; Lees et al., 2015). Isso ocorre devido às plantações de palma possuírem estrutura menos complexa, quando comparados às florestas naturais (Fitzherbert et al. 2008), pois apresentam árvores com idade uniforme, pouca cobertura de dossel, sub-bosque esparso e microclima pouco estável (Foster et al. 2011).
Essas alterações na estrutura da vegetação influenciam nas distribuições, interações e adaptações dos organismos (Wiens, 1976), uma vez que aspectos como a composição e abundancia de espécies depende da disponibilidade de habitats para que estas possam realizar suas funções (Magurran, 1988). As mudanças no uso do solo atraem a atenção devido aos impactos que essas práticas causam sobre a riqueza e diversidade de espécies, e atualmente maior atenção está sendo dada sobre a influência desses impactos sobre diversidade funcional (Luck et al. 2013). Pesquisas realizadas nas últimas décadas identificam que as mudanças no uso do solo causam impactos negativos sobre a biodiversidade dos ecossistemas em várias partes do globo (Sala et al 2000; de Baan et al. 2013; Newbold et al 2015).
Muitos trabalhos que buscam avaliar as comunidades biológicas se restringem a aspectos quantitativos clássicos como composição, riqueza, diversidade de espécies, que atribuem peso igual para todas as espécies independente da sua função na comunidade (Podgaiski et. al., 2011). O monitoramento da biodiversidade do ponto de vista funcional pode complementar esses indicadores tradicionais, permitindo uma visão mais complexa dos efeitos que um determinado distúrbio tem sobre a comunidade (Moretti et. al. 2009). Atualmente a diversidade funcional tem obtido maior relevância e vem sendo melhor documentada, em relação aos ecossistemas, em comparação com medidas de riqueza (Hector & Bagchi, 2007).
A diversidade funcional é uma ferramenta robusta que apresenta um conjunto de características que representam o papel ecológico das espécies (Petchey & Gaston, 2002), podendo influenciar no funcionamento dos ecossistemas (Chapin et al., 2000). O ganho ou a perda de espécies pode determinar o futuro da estrutura funcional de uma comunidade, sendo a perda de espécies únicas um impacto ecológico maior do que a perda de espécies semelhantes funcionalmente (Barbet-Massin & Jetz, 2015), podendo levar a perda de serviços ecossistêmicos importantes (Luck et al 2013). Comunidades onde a redundância funcional é baixa, ou seja, apresenta muitas espécies funcionalmente únicas, a perda de espécies pode levar a sérias implicações no funcionamento do ecossistema (Luck et al 2013).
As mudanças no uso do solo são conhecidas por afetar a diversidade de espécies, entretanto estudos que avaliam os efeitos da monocultura de dendê sobre a diversidade funcional são escassos (Azhar 2013; Edwards et al. 2013). Koh & Wilcove, 2008 avaliaram comunidades de borboletas e aves na Malásia e Indonésia, e descobriram uma redução de 83% e 79%, na diversidade de borboletas e 77% e 73% de redução nas espécies de aves, respectivamente, quando comparadas com floresta de crescimento tardio. Devido à grande relação que a diversidade funcional tem com a manutenção e funcionamento dos processos ecológicos das comunidades (Petchey & Gaston 2006), compreender como essas modificações interferem na comunidade é importante para medir a diversidade biológica relevante para o funcionamento desta (Flynn et al, 2009).
Para este estudo focamos na comunidade de aves, pois estas formam um grupo ecológico importante que ocupam diversas funções ecológicas significativas dentro de um ecossistema, incluindo a dispersão de sementes, controle de pragas, polinização e muitos outros (Nathan & Müller-Landau, 2000). Assim as aves possuem atributos ecológicos que se diferenciam de acordo com a localização geográfica, ocupando diferente nichos climáticos, sendo assim sensíveis as mudanças no ambiente (Kissling et al., 2012; Jetz et al., 2007).