"Exposição ao mercúrio e níveis de prolactina e interleucina 10 em puérperas da região da bacia do rio Tapajós, Itaituba, Pará"
mercúrio, prolactina, interleucina 10, gravidez, exposição.
Ao mercúrio tem sido atribuída a capacidade de interferir nos sistemas orgânicos imunológico e hormonal, além dos outros sistemas frequentemente atingidos por esse agente tóxico. Mulheres em idade fértil ou grávidas constituem um grupo vulnerável a esses efeitos, em relação a si mesmas e seus conceptos. Foi avaliada a exposição ao mercúrio (Hg) e os níveis de prolactina (PRL) e interleucina- 10 (IL-10) em 144 mulheres (no pós-parto e cerca de um ano depois) de Itaituba, área sob impacto ambiental do mercúrio e em mulheres de municípios da área metropolitana de Belém, sobretudo Ananindeua, área sem impacto conhecido do mercúrio (156 puérperas e 156 não puérperas). As análises de mercúrio total (Hg-t) em sangue foram feitas por Espectrometria de Absorção Atômica por Vapor Frio, pelo Método Akagi. As análises séricas de PRL foram feitas por Ensaio Imunoenzimático com detecção final em fluorescência (método ELFA) e as determinações de IL-10 foram realizadas por Ensaio Imunoenzimático de Fase Sólida de Sensibilidade Amplificada. Dados demográficos e epidemiológicos foram obtidos através de questionário semi-estruturado. As puérperas de Itaituba apresentaram média de Hg-t de 13,93 μg/l, média de PRL de 276,20 ng/ml e média de IL-10 de 39,54 pg/ml. As médias de Hg-t, PRL e IL-10 nas puérperas de Ananindeua foram respectivamente 3,67 μg/l, 337,70 ng/ml e 4,90 pg/ml. As mulheres não puérperas de Itaituba apresentaram média de Hg-t de 12,68 μg/l, média de PRL de 30,75 ng/ml e média de IL-10 de 14,20 pg/ml. As médias de Hg-t, PRL e IL-10 das mulheres de Ananindeua foram 2,73 μg/l, 17,07 ng/ml e 1,49 pg/ml, respectivamente. Diferenças significantes (p<0,0001) foram encontradas nos níveis de Hg-t, PRL e IL-10 entre Itaituba e Ananindeua, maiores em Itaituba, exceto na PRL das puérperas, maior em Ananindeua. Os níveis semelhantes de Hg-t nas duas avaliações das mulheres de Itaituba (p=0,7056) e a correlação moderada sugerem continuidade da exposição (r=0,4736, p<0,0001). A principal variável preditora dos níveis de mercúrio foi o consumo de peixe nos modelos de regressão múltipla linear e logística. No modelo linear da PRL, a paridade e os níveis de IL-10 foram preditores nas puérperas de Itaituba e o peso do recém-nascido e a IL-10, em puérperas de Ananindeua. A IL-10 também foi preditora da PRL nos modelos lineares da mulheres não puérperas de Itaituba (p=0,0236) e de Ananindeua (p=0,0342). A PRL foi a principal preditora da IL-10 nos modelos lineares dos grupos de mulheres. Nos modelos logísticos das mulheres de Itaituba, os níveis de Hg-t estavam associados com a PRL nas puérperas e o trabalho em garimpo (este também importante para as não puérperas). A IL-10 esteve associada à morbidade recente nas puérperas de Itaituba (p=0,0210), ao consumo de bebida alcoólica (p=0,0131) e trabalho em garimpo nas mulheres não puérperas (p=0,0235). A exposição crônica ao Hg das mulheres de Itaituba, a diferença significante nos níveis dos fatores imunoendócrinos avaliados, em relação às mulheres não expostas e a associação com variáveis epidemiológicas relevantes, sugerem a possibilidade de impactos da exposição no perfil imunoendócrino das mulheres de Itaituba, chamando atenção para a importância da vigilância da saúde dessa população e o possível uso de indicadores imunoendócrinos, como a PRL.